TORNARAM-SE VIRAIS (A INDECÊNCIA E O DISPARATE)
Maio 10, 2020
J.J. Faria Santos
“Este sujeito pertence à categoria dos asnos”, sentenciou Clara Ferreira Alves em pleno Eixo do Mal. Equiparar André Ventura a um palerma, catalogá-lo como alguém com défice de bom senso e com um comportamento irritante pode ser considerado excessivo? Não creio. A proposta de “um plano de confinamento específico” para a comunidade cigana é obviamente inconstitucional, indecente e lesivo de todo um legado civilizacional. Na mesma semana em que João Miguel Tavares, jocosamente, aludiu ao “momento Leni Riefenstahl da CGTP” (a propósito das comemorações do 1º de Maio), a mais recente provocação de Ventura (no fundo um remake aditivado de uma obsessão de estimação) vem evocar na nossa memória circunstâncias que conduziram a uma das páginas mais negras da História da Humanidade. Ao defender a segregação, o deputado do Chega não convoca a imagética da cineasta responsável pela propaganda nazi de que J.M. Tavares se socorreu. Neste caso, é mais o momento Himmler de André Ventura, e não há nada que o possa redimir, nem sequer a alegação de um transtorno obsessivo compulsivo que o compele ao protagonismo a todo o custo.
Parece que Nuno Melo descobriu que o vírus do marxismo cultural (talvez o marxcul-20…) está a ser transmitido aos alunos da telescola. E o paciente zero é o historiador Rui Tavares, acusado de ser o ponta-de-lança de uma “aviltante e ignóbil revolução cultural”. Pouco importa que o que esteja em causa seja a utilização por parte de um docente de um excerto de um programa da RTP2 de 2018, e que nada do que Tavares afirme se afaste do rigor histórico. O CDS achou pertinente colocar uma pergunta ao Governo acerca desta matéria, mesmo partindo de uma premissa errada. Será Nuno Melo desprovido de bom senso? Recorramos à involuntária especialista em equídeos (na variante com alusões a Eça e Camilo) Clara Ferreira Alves, para quem Melo é “um asno”, “um arruaceiro” e “um sobreexcitado”. O deputado do CDS, por sua vez, lamentou “a falta de educação, a boçalidade e a linguagem de taberna de Pedro Marques Lopes e Clara Ferreira Alves”. Nesta guerra cultural sem tréguas, Nuno Melo é já uma das baixas em combate, atingido pela “Esquerda” que, explica ele em artigo no Público, “de cada vez que um dos seus é visado, une-se e retalia em matilha. Já a Direita, individualista, menos corporativa, assiste e cala quando um dos seus é ferido”. Como pode a Direita abandonar o seu soldado no campo de batalha? Onde estão os Rottweilers individualistas prontos a desafiar os Pit Bulls do marxismo cultural?
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