TORNAR PORTUGAL NA NOVA FINLÂNDIA
Janeiro 09, 2018
J.J. Faria Santos
Ele diz que tem um programa “que é absolutamente extraordinário, feito por uma equipa fantástica”. Não, não estou a falar de Donald Trump e da sua propensão para os auto-elogios hiperbólicos. Pedro Santana Lopes não quer tornar Portugal grandioso, limita-se a querer que “Portugal seja a nova Finlândia”. (Curiosamente, um dos ideólogos da direita, Rui Ramos, defendeu em Novembro passado que o actual Governo é composto por uma “geração derrotada, uma espécie de mortos-vivos da política”, cuja origem remonta ao consulado governamental de Guterres que almejaria, precisamente, “transformar Portugal numa Finlândia”. Deste ponto de vista, lá se vai o “caminho novo” que Santana pretende trilhar. Enfim, pode sempre argumentar que a receita para lá chegar é diferente.)
Não lhe faço a injustiça de o comparar a Trump, mas posso sempre fazer notar que ambos apreciam a mobilização dos apoiantes - enquanto o Presidente americano viu na sua tomada de posse uma multidão nunca antes reunida em cerimónias idênticas, Santana Lopes promete “voltar a encher a Alameda” graças ao entusiasmo que o seu projecto vai suscitar. Não se imagina a perder, até porque tem feito um “trabalho imenso” e apresentou um programa que julga “ninguém apresentou”. Desafiado pelo Expresso a encarar um cenário de derrota, responde prontamente: “Só gosto de trabalhar com hipóteses positivas.” (Em Belém, Marcelo suspirou com a perspectiva de lhe sair mais um “optimista irritante”.)
Em relação ao Presidente da República, Santana já se pronunciou a favor da sua recandidatura, apoiando o seu mandato “exigente” mas “solidário”, e aproveita a entrevista ao semanário para afirmar que o PR introduziu na política portuguesa uma nova “lógica de funcionamento”, pelo que “as lideranças distantes das pessoas não são já para este tempo”. Rui Rio, o seu adversário na luta pela liderança do PPD/PSD, além de “limitado” e “paroquial”, cometeu o sacrilégio de não ter visitado as localidades atingidas pelos incêndios. Como sabemos, a política do século XXI exige um atestado de afectos, uma certidão de empatia, um elevado quociente de inteligência emocional.
Estas considerações foram tecidas apesar da sua relutância em falar de traços de personalidade, porque acha que “isso é uma conversa para revistas sociais”. Já a historiadora Maria de Fátima Bonifácio, não obstante considerar que nenhum dos candidatos lhe “convém”, não hesita em caracterizar Santana Lopes como “doce, charmoso, afectivo, é (quase) impossível não ser cativado por ele. Um homem bom, sem dúvida.” (Público, 6.01.2018)
De revistas sociais, quem percebe é Lili Caneças. Que até já desfilou numa arruada empunhando uma bandeira da coligação Portugal à Frente, na companhia de Santana, Marcelo e Passos Coelho. Agora, parece rendida à personalidade de Mário Centeno, “o CR7 das Finanças”. Seguramente que lhe deve ter dito que ele não aparenta ser um “morto-vivo”. Na verdade, é altamente provável que lhe tenha dito qualquer coisa como isto: Não percebo o que esse tal Rui Ramos quis dizer com essa do morto-vivo, darling. Estar vivo é o contrário de estar morto!