THE SHOW MUST GO ON
Fevereiro 26, 2014
J.J. Faria Santos
Cristo desceu novamente à Terra. Marcelo aconselhado, entre outros, por amigos como Alberto João Jardim (esse ícone do PSD despesista…) meditou, enquanto sobrevoava o “contenente”, e decidiu assistir e participar no congresso do 40º aniversário do partido. Um Pedro, que não o negou três vezes (embora possa, não sabemos bem, tê-lo apelidado de catavento e ter tentado tirar-lhe o tapete vermelho presidencial), partiu em demanda da social-democracia perdida. O outro Pedro, misericordioso e afectivo, anda por lá e notou a profusão de convidados-surpresa para a ceia do Senhor. Paulo, descrente dos efeitos eleitorais da conversão à bondade da austeridade expansionista, tomou a estrada da desconfiança em relação às previsões de “algumas instituições nacionais ou internacionais”, e foi a special guest star no encerramento do congresso do parceiro de coligação. Até o filho pródigo regressou! Em espírito, dado que se encontra fora do pais em trabalho…ou em busca permanente do conhecimento.
Mas não foi só Miguel Relvas que regressou. O Joker do ajustamento, depois da retirada estratégica com direito a missiva recheada de falsa modéstia e humildade (percebe-se melhor, agora), reapareceu pela mão da primeira dama do jornalismo engagé de direita, proclamando ao mesmo tempo, em entrevista ao Público, que “foi um negociador bem-sucedido em nome dos interesses nacionais”. Mais disse Vítor Gaspar que, em relação às metas originais do programa de ajustamento, não “houve sequer incumprimento porque as metas foram “renegociadas” (este extraordinário método, se aplicado em fórmula multiusos, acabava com todos os incumprimentos…), e reafirmou que “em momentos de crise, a previsão económica é particularmente difícil”. Desconfio que, ainda assim, menos difícil de deslindar que os “processos mentais” do político que chamou a Maria Cavaco Silva “PMI (Pequena e Média Intelectual)”.
“O país está melhor”, dizem eles. Mais de 700 000 desempregados oficiais (menos de metade com direito a subsídio); aproximadamente 250 000 pessoas que tiveram de emigrar; corte generalizado em ordenados e reformas. “O país está melhor”, dizem eles. Recuo do PIB até ao nível do princípio do milénio; redução do défice (excluindo todas as medidas extraordinárias) de apenas 0,1%; dívida pública a rondar os 130%. “O país está melhor”, dizem eles. Menos cerca de 50 000 pessoas com direito ao Rendimento Social de Inserção; 130 000 pessoas que viram retirado o abono de família; mais de 2 700 000 pessoas a viver no limiar da pobreza. O “país está melhor” porque a economia voltou a crescer, e acentuou-se o reequilíbrio da balança externa. A maçada é que um dos nossos credores, o FMI, diz que duvida da existência de uma mudança estrutural da economia que sustente o crescimento. E, por outro lado, aponta o efeito de factores irrepetíveis no aumento das exportações e releva o risco do aumento do consumo privado fazer novamente disparar as importações.
Miguel Sousa Tavares escreveu, no Expresso, que “o país pagou um preço inimaginável, e que durará décadas a determinar em toda a sua extensão, pelo bom comportamento do Governo perante os mandantes da troika”. Aposto que ele não acredita que o “país está melhor”. Eu também não. É o meu “inconseguimento”.