AS LÁGRIMAS AMARGAS DE CR7 NO ADEUS PORTUGUÊS
Dezembro 11, 2022
J.J. Faria Santos
Um guarda-redes com ar de “milhafre ferido na asa” depois de um voo falhado. Um semideus a atravessar um vale de lágrimas a caminho do balneário. Jogadores avulsos, espraiados pelo relvado, aturdidos pela inapelável circunstância do fim. O esforço traído, a técnica que se revelou insuficiente, a táctica que parece ter confundido paciência com lentidão, para depois se abandonar ao frenesim que condiciona a ponderação e a eficácia. E uma bola com chip, rebelde sem causa, que não se deixa guiar e se entretém a jogar, ela própria, com as probabilidades e a sorte.
As lágrimas amargas de CR7 no adeus português sublinham o final melodramático deste Casablanca rodado no Catar. Portugal, que esperava obter o livre-trânsito para as meias-finais, acabou destroçado, com o sonho de uma geração transformado em nevoeiro. O protagonista, um cruzamento de D. Sebastião com Fausto, depois de assinar uma carreira ímpar com o seu robusto ego e ao ritmo dos seus desejos, mostra-nos, agora, a sua humana vulnerabilidade.
O genérico pode ter terminado e a legenda “fim” ter tomado conta do ecrã, mas, no futebol como no cinema, os remakes acontecem. E, muitas vezes, os protagonistas da primeira fita aparecem como convidados de prestígio na nova versão. Há etapas que terminam, mas há muitas maneiras de evitar o fora-de-jogo.