O IMPERATIVO DA OPINIÃO
Dezembro 18, 2022
J.J. Faria Santos
Na era das redes sociais, dos fóruns e da democracia participativa ter opinião é um imperativo categórico. Como se a abstinência de proferir um juízo de valor acarretasse a pena máxima da exclusão social. Opino, logo existo. Como se fosse possível não opinar se “os queques guincham”, se o primeiro-ministro está numa deriva absolutista ou a sofrer os efeitos da privação do sono, se o Fernando Santos é um selecionador de créditos firmados em fim de ciclo ou um treinador-empresário com queda para o planeamento fiscal. Ou ainda se o Montenegro acha que o seu guru, Passos Coelho, tem uma “posição muito fechada” acerca da eutanásia (spoiler alert para o líder social-democrata: Passos tem “posições muito fechadas” sobre várias matérias”). E o Moedas tem razão em lamentar-se porque Costa não lhe telefonou? E a Câmara de Lisboa fez bem em assinalar o Hanukkah? E em convidar Céline Abecassis-Moedas para acender uma das velas do candelabro? E os renovadores do PCP serão bem-vindos, ou “nem todos”?
E que dizer dos distintos jornalistas, colunistas e líderes de opinião, das agendas mediáticas e dos critérios editoriais? Os temas são recorrentes. A ausência de um desígnio nacional, a inexistência de “reformas estruturais” (uma espécie de gambozino do discurso político), o défice de planeamento, a carência de um plano coerente e sistemático para reduzir o défice orçamental e a dívida (num dia) ou utilizar a “folga orçamental” (noutro dia). Mais à esquerda carrega-se na desigualdade, nos “salários de miséria”, na degradação das condições do exercício de profissões como as dos professores e do pessoal médico, no “caos” na Saúde. Mais à direita fala-se na carga fiscal asfixiante, nos jovens em fuga de um país que não é para eles, na suspeita que recai sobre o empreendedorismo num país viciado em subsídios e dependente do Estado. A caricatura é o retrato preferido, porque é uma visão algo bruta mas com um toque de humor e que evita o confronto com as nuances da realidade. E se a política tem horror ao vazio, a opinião política tem pavor às tonalidades. Já a vida “instagramável” não suporta o eclipse da story. A vida é uma perpétua praça pública online que nos interpela e nos exige interacção. A vida offline é o subúrbio da vida moderna.
Imagem: Geralt CCO (Wikimedia Commons)