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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

OS INIMIGOS DE ALEXA

Janeiro 19, 2025

J.J. Faria Santos

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Alexandra Leitão, diz o colunista Henrique Monteiro, não é o melhor nome para derrotar Moedas. “Não por falta de qualidades, mas por falta de moderação a expor as ideias”, explica. E sugere que ela reduza no “espírito de ´Pasionária’”. Monteiro foi moderado nas suas considerações. Nem lhe devem ter passado pela cabeça os adjectivos “histérica” ou “esganiçada”. Mas pode ter ponderado expressões como “saliente” ou “radical”. Como para Monteiro o problema reside na forma como Leitão expõe as ideias, fica a dúvida se o problema está no modo articulado como se expressa, na assertividade que emprega, no tom firme mas sereno com que se exprime ou na franqueza (ou impiedade) e no rigor com que analisa as ideias e as acções dos adversários políticos.

 

Ficámos sem perceber se à frontalidade Monteiro prefere as proclamações melífluas carregadas de subentendidos (da “escola Marcelo”, por exemplo). Ou se aprecia a moderação ora titubeante, ora sucedâneo de locutora de continuidade a ler o teleponto da ministra da Administração Interna. Ou se admira o estilo de frases pré-formatadas envoltas em vacuidades da ministra da Saúde. E, já agora, seria interessante saber se aprecia o “perfil conflituoso” e a “fúria exoneradora” (para citar duas expressões do colega de jornal Daniel Oliveira) da ministra da Cultura, também dada a tiradas bombásticas contra o compadrio e as cunhas.

 

E será moderado Carlos Moedas com a sua dificuldade em lidar com interpelações incisivas (amua, abandona a Assembleia Municipal), e com a pouco subtil colagem ao discurso securitário? E será moderado Hugo Soares com as suas vociferantes intervenções no Parlamento (não se pode dizer que expõe ideias – nem ele se preocupa com estas minudências -, expele propaganda)? E será moderado um primeiro-ministro que declara que “os extremos saíram à rua”, comparando, por exemplo, como notou Amílcar Correia no Público, o SOS Racismo e o Habeas Corpus? E que criticou a comunicação social “ofegante” que interpela os políticos seguindo o guião de uma voz sinistra nos auriculares?

 

Imagem: Instagram

O GURU DO SEXO TÂNTRICO E OS SEUS CÃES CONSELHEIROS VIA TELEPATIA

Junho 09, 2024

J.J. Faria Santos

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O homem define-se como um “anarcocapitalista”, tem publicações académicas, trabalhou como analista financeiro e, mais recentemente, fez carreira como comentador televisivo; gaba-se de ser um guru do sexo tântrico e é adepto do traço grosso no simbolismo, daí a motosserra como metáfora dos cortes orçamentais; e o seus melhores conselheiros, com quem tem conversas telepáticas, são os seus cinco cães, todos clonados, o que lhe terá custado cerca de 50 000 dólares, não duvidando nós de que, seguramente, terá efectuado uma análise custo-benefício. Eis o material de que é feito um estadista liberal latino-americano.

 

6 meses de mandato de Javier Milei na Argentina resultaram num desempenho que o previsível FMI classificou de “impressionante”, mas também numa recessão técnica. Se a inflação está em desaceleração, a taxa de pobreza aumentou para 55,5% no primeiro trimestre de 2024. Em consequência, os hábitos de consumo alteraram-se: 35% das pessoas deixaram de adquirir produtos que compravam habitualmente e 55% delas fazem as compras em função da necessidade imediata, tendo em conta ofertas e promoções. Milei congelou as obras públicas e anunciou o despedimento de 70 000 funcionários públicos.

 

O político cuja vitória foi celebrada efusivamente por militantes da portuguesa Iniciativa Liberal, entrevistado pela Time, mostrou hostilidade perante a imprensa livre, apelidando os jornalistas de “extorsionários” e “mentirosos”. A revista escreve que “muitos do que interagem com ele dizem que ele vê o mundo sob o prisma dos memes da extrema-direita”. Num acto facilmente confundível com nepotismo (mas talvez seja meritocracia…), o Presidente nomeou para Secretária-geral da Presidência a irmã, uma ex-leitora de tarot que, de acordo com a Time, agora “controla quais os jornalistas com quem o irmão fala, que fotos dele podem ser publicadas, e, alegadamente, que ministros nomear e demitir”.

 

Milei apresenta o cardápio completo dos populistas e extremistas autoritários. Despreza a igualdade de género, ataca os activistas climáticos e acha que a educação pública é equivalente a uma “lavagem cerebral”. Adepto ferrenho do mercado livre, chegou até a defender a comercialização de órgãos humanos. Como o definiu um diplomata americano, por oposição a Donald Trump, Milei é um “verdadeiro crente”, ao passo que Trump só “acredita nele próprio”. Talvez por isso, Milei, diz-se, terá feito constar que Deus o terá instigado a candidatar-se à presidência da Argentina.

 

Enquanto aguardam pela retoma que configuraria uma recessão em V, conforme prometido pelo Presidente, resta aos argentinos obter alguma forma de alívio face à dose cavalar de “liberalismo”, porventura seguindo os conselhos terapêuticos do guru do sexo tântrico. Porque afinal, como já explicava há quase 100 anos Cole Porter no tema Let’s Do It: “Some Argentines without means do it / People say in Boston even beans do it / Let’s do it, let’s fall in love”.

O QUE DIZEM OS COMENTADORES (DE PEDRO NUNO E DO PS)

Janeiro 14, 2024

J.J. Faria Santos

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Presume-se que os comentadores e analistas não vivam numa realidade paralela, mas depois lê-se o que António Barreto escreveu sobre o novo secretário-geral do PS (“Pedro Nuno Santos, depois de obra mal feita e antes mesmo de obra nova, tem o favor da imprensa como raros políticos recentes.”) e ponderamos se ele terá acabado de chegar de Marte. “O favor da imprensa?”, a sério? Todos os dias a ser confrontado com acusações de imaturidade, a ser recordado da tirada de não pagar a dívida, acusado de informalidade na sua acção como ministro, a quererem colar-lhe à força o rótulo de radical, a acharem que deveria ter resolvido a crise da habitação no período de tempo em que foi governante com essa pasta?

 

Apesar de ter escrito no Expresso que “Pedro Nuno disse mais em vinte minutos de discurso sobre políticas alternativas e preocupações de futuro do que o PSD em oito anos”, Miguel Sousa Tavares não o tem em grande conta. Já João Vieira Pereira, director do semanário, acha que a estratégia do líder do PS para as próximas eleições “é demasiado simples, mas muito eficaz”, tendo o gravíssimo inconveniente de mesmo que seja “eleito ao centro, irá governar à esquerda”. Como se infere, para ele, um partido da família da social-democracia e do socialismo democrático governar à esquerda é um contra-senso. Miguel Poiares Maduro, no mesmo jornal, lamenta que Pedro Nuno se preocupe mais com a “necessidade de decidir” do que com o “processo de decisão”. Receia as decisões de “políticos iluminados”, preferindo um enigmático “processo independente de avaliação técnica do mérito” das opções. Aposta talvez na decisão “iluminada” da tecnocracia para moderar os impulsos dos políticos portadores da legitimidade democrática conferida pelo voto?

 

Se passarmos do líder ao partido, a opinião de Amílcar Correia, redactor principal do Público, resume os dois pontos essenciais do argumentário para remover o PS do poder: “os eventuais inconvenientes da mexicanização da política portuguesa” e “a forma trapalhona e indigente como [o PS] desbaratou a confiança do eleitorado”. “Desbaratou a confiança” como? Com a crise na habitação, com as insuficiências do SNS e com a instabilidade no elenco governativo, por exemplo? E que peso terão na decisão de 10 de Março, por exemplo, o crescimento económico acima da média da UE, a gestão da pandemia e das consequências de uma guerra na Europa, o aumento dos rendimentos, a descida do desemprego, os apoios sociais concedidos, a recuperação do poder de compra e o controlo do défice e da dívida?

 

No seu artigo semanal para o Expresso, sob o título Será possível o PS ganhar, Luís Aguiar-Conraria escreveu que a noção de que atravessamos uma “crise generalizada é uma criação mediática”, considerando que quem receia o futuro “prefere manter o Governo que lhe tem garantido o conforto de uma situação financeira estável”. Para ganhar o voto, é necessária uma “oposição competente”, acrescentou. O que nos remete para a questão da mexicanização do regime, cujo risco e responsabilidade tem de ser partilhado, pelo menos, pelos dois partidos hegemónicos do arco do poder.

 

Imagem: Cartoon de Cristina Sampaio para o Público

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