O SUPREMO INFLUENCIADOR DA NAÇÃO
Junho 04, 2023
J.J. Faria Santos
Quando o supremo influenciador da nação, agora também auto-investido na função de vigilante, faz questão de afirmar que “os serviços de informações são do Estado, não são de um Governo” está a falar claro? Evidentemente que não. Se possui informação que comprova o uso indevido dos serviços de segurança por parte do Executivo, não lhe resta alternativa senão demiti-lo. Se não é esse o caso, a afirmação produzida limita-se, pela sua extemporaneidade, a instalar uma suspeita, pelo que se enquadra no estilo sinuoso de fazer política que é património inalienável do Professor Marcelo desde os tempos de jornalista.
Neste novo ciclo, em que pretende conjugar o grau de influência de uma Kim Kardashian West com a vigilância activa da Securitas, no que se afigura ser um acto retaliatório (se Galamba tivesse sido demitido a vigilância seria mais frouxa ou nem sequer existiria?), Marcelo pretende usar as suas armas de eleição, que se dividem entre aparições institucionais com recados entre o jocoso e o sibilino, investidas estudadamente espontâneas na rua para conviver com a populaça e com os jornalistas e, por fim, o fluxo mais ou menos torrencial de informação off the record para a comunicação social, ao mesmo tempo que assevera, com cara de póquer, que “é o único porta-voz da Presidência”.
Nos intervalos das cogitações produzidas em catadupa pelo seu cérebro prodigioso, da exploração da sua inesgotável criatividade e da análise sensorial e intelectual do sentir do povo português (basicamente analisando afincadamente os estudos de opinião), o Presidente persistirá nas intervenções a propósito de tudo e de nada, com recados, avisos, intimações e, quiçá, intimidações, como se tutelasse o Governo. Da cooperação à influência e da influência ao condicionamento, parece ter sido o caminho.
O homem que uma vez disse, em entrevista ao Expresso, que “coabitar com uma maioria parlamentar absoluta de orientação política oposta é para um Chefe de Estado quase um sonho, em semipresidencialismo”, percebe agora que não vai ter direito a sonhos cor-de-rosa. O primeiro-ministro não tem vocação para vassalo e a indulgência termina quando a ingerência bate à porta.
Imagem: José Sena Goulão/Lusa (24.sapo.pt)