AS TIAS E OS BETOS CONTRA O ESTALINISMO
Janeiro 15, 2023
J.J. Faria Santos
De todos os passos em falso do Governo nos últimos tempos, dados com uma determinação alucinada ou com uma displicência atroz, o caso de Carla Alves, secretária de Estado da Agricultura durante 24 horas, parece-me o mais insólito. A ideia de que alguém detentora de uma conta conjunta onde os montantes depositados foram largamente superiores aos rendimentos declarados, sem que para tal tenha adiantado uma explicação razoável, possua capacidade e autoridade para exercer um cargo político é simplesmente incompreensível.
A sucessão de erros e escolhas pouco avisadas feitas pelo Governo contribuíram para um desgaste acelerado, cavalgado pela oposição (o que é natural), subtilmente explorado pelo Presidente da República (o que não tem nada de surpreendente) e glosado até ao infinito pelos média. Neste último caso, quer seja por orientação editorial, por convicção, ou por submissão às condicionantes das audiências, houve pouca ênfase na exposição dos factos e muito ruído sob a forma de proclamações definitivas do alto do trono da superioridade ética por parte dos comentadores. No seu artigo de ontem no Público, Pacheco Pereira acusou o Governo de ser “o primeiro dos reforçadores do populismo” por causa de “erros clamorosos e culpas sem responsáveis”, para depois se alongar numa crítica ao universo mediático, onde se destacam “os próceres da direita radical” com uma prática em que “há apenas uma constante que nada tem a ver com escrutínio, mas com o uso político da má-fé. Não é jornalismo, é propaganda política”. Esta semana foi noticiada, com destaque, a demissão de um assessor. Qualquer dia, despede-se do gabinete do primeiro-ministro um funcionário do apoio técnico-administrativo ou do pessoal auxiliar (sem desprimor para estas funções) e temos direito a uma “última hora” com a iminência da queda do Governo.
A escalada na contestação ao executivo socialista subiu mais um patamar com a excêntrica (ao nível dos argumentos e não só…) manifestação em frente à sede do PS. As tias e os betos (não sabemos se também os queques…) marcaram presença porque, citando uma entrevistada no Jornal da Noite da SIC, “hoje em dia estamos a ser policiados por um Estado corrupto. Um Estado que nos tolda a liberdade, nos tira todos os direitos e garantias. Nós estamos a entrar num estado socialista-‘stalinista.” A manifestação, convocada através de grupos de Whatsapp, teve como lema “socialismo out” e foi apresentada como apartidária. Só não se percebe é como é que ela se concretizou num Estado onde não existem direitos nem garantias. Devemos, certamente, dar graças pela existência da FLICA (Frente de Libertação de Cascais e Arredores).