MENS SANNA IN CORPORE MARIN
Agosto 20, 2022
J.J. Faria Santos
As primeiras-ministras também dançam ou, como eloquentemente Trevor Noah colocou a questão no Daily Show, “alguns países têm líderes que não têm osteoporose”. O que começou por ser uma barragem de crítica apontando para uma quebra do protocolo implícito (um líder político tem de manter em todas as circunstâncias a sua gravitas sob pena de perda de credibilidade) parece evoluir agora para um julgamento de carácter, com a divulgação de imagens onde Sanna Marin dança com uma estrela pop. O sempre ávido Daily Mail avança na sua edição online que Marin terá, “segundo testemunhas, dançado com três homens diferentes e sentado no colo de duas companhias masculinas”. Na verdade, é de admirar que esta Messalina não esteja coberta de opróbrio, expiando a sua indecorosa humanidade e redigindo, com o apoio de um conselheiro espiritual, a sua demissão.
Sanna Marin invocou a natureza privada da celebração e mostrou desagrado pela divulgação pública das imagens. Confrontada com a insinuação de que haveria estupefacientes na festa, tomou a iniciativa de fazer um teste de despiste de droga. “Não fiz nada de ilegal”, declarou ela perante repórteres em Helsínquia, enquanto uma cientista política conterrânea, Emilia Palonen, dizia ao New York Times que “o divertimento dela pode ser associado à irresponsabilidade”. Até parece que se procura uma equivalência entre decisões que podem empurrar milhões para a miséria, alimentar uma guerra, contemporizar com a corrupção ou ignorar o desrespeito pelos direitos humanos e o acto de dançar ao som de I gotta feeling dos Black Eyed Peas. Marin não participou numa festa “bunga bunga”, não partilhou segredos de Estado nem se envolveu com um qualquer estagiário. Aos jornalistas poderia ter afirmado, citando os Beastie Boys, “You gotta fight for your right to party”.
Imagem: 24.sapo.pt