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NO VAGAR DA PENUMBRA

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HAJA SAÚDE: A CULPA É DO SNS

Janeiro 21, 2024

J.J. Faria Santos

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Os seguros de saúde deverão aumentar cerca de 10% em 2024. A culpa é do  SNS. E da inflação. Os portugueses com este tipo de seguro, imagine-se o desplante, passaram a utilizá-lo em mais consultas e exames, alegadamente por causa da sobrecarga do serviço público de saúde. Em vez de se limitarem a pagar os prémios dos seguros, os portugueses passaram a utilizar mais intensamente os serviços que estes cobrem. Os custos das seguradoras cresceram por causa deste “aumento brutal da frequência”, nas palavras do líder da Associação Portuguesa de Seguradores ao Jornal Económico. E o CEO da Tranquilidade disse ao Expresso que “as seguradoras não estão a ganhar dinheiro, estão a perder”. Já não se pode confiar na frugalidade dos portugueses, que estão a dar cabo do negócio das seguradoras.

 

Uma outra reportagem do Expresso, editada na semana passada, dava conta da afluência muito elevada às urgências dos hospitais privados, com a quase duplicação de atendimentos diários, dez horas de espera e até fecho temporário dos serviços. A culpa? É do SNS. Como explicou ao jornal um especialista em medicina interna da CUF Sintra: “Estamos a viver com a incapacidade do SNS e a ser assoberbados por uma avalancha de pessoas”. Os particulares pagam em média, incluindo os exames, cerca de 400 ou 500 euros. Em caso de doença grave, que implique internamento, detalha o Expresso, mesmo com seguro é necessário pagar uma franquia que pode variar entre 1500 e 3500 euros, e para os particulares o valor oscila entre 2500 e 7500 euros. Um “clínico de um privado” refere que 70% dos particulares que têm de ficar internado pedem para ir para o SNS. O que é uma maçada, depreende-se, porque não só se perde a receita que adviria do tratamento como, nos casos graves, o doente tem de ser acompanhado ao “internamento dos hospitais públicos”, desfalcando ainda mais o atendimento do privado.

 

Do ponto de vista dos operadores privados parece ocorrer uma espécie de círculo vicioso. O SNS, entre outros factores desfalcado de profissionais aliciados por melhores condições oferecidas pelos privados, mostra-se incapaz de prestar cuidados em condições ideais e gera tempos de espera desadequados. Por seu lado, os utentes dirigem-se aos privados provocando “assoberbamento”. Tudo indica tratar-se de um caso em que a soberba gera assoberbamento, com danos colaterais nos resultados das seguradoras.

 

Só para o SNS é que a saúde não é um negócio. Para os operadores privados o ideal seria circunscrever as respostas clínicas aos clientes premium, encaminhar tratamentos onerosos para o serviço público e perorar em conferências e seminários acerca da “medicina de excelência” que praticam, ao mesmo tempo que engrandecem o balanço e a demonstração de resultados dos seus relatórios e contas. Que o SNS não “colabore” neste propósito parecer-lhes-á inadmissível. É que, como se pode ler no site da Luz Saúde, o objectivo é “promover a saúde e o bem-estar das populações que servimos (…), com o objetivo de contribuir de forma duradoura para a sustentabilidade do sistema de saúde e para a coesão social.” Deve ser mais a coesão do social. Das e dos socialites.

 

Imagem: Logótipo institucional do SNS

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