E A SAUDADE ACONTECEU
Janeiro 03, 2021
J.J. Faria Santos
O perito do fraseado e do tempo, o mestre da voz precisa e do arrebatamento contido, o artista que logrou incorporar a inovação na tradição, o gentleman que se excedia em cortesia e delicadeza, o cidadão interventivo que sabia o preço e o valor da dignidade deixou-nos às primeiras horas do novo ano. Tinha Sinatra nas mãos e no coração, e o fado e a poesia na alma. Amava a noite e a boémia tanto quanto amava a sua arte, a família e os amigos, o seu país e as ruas do seu bairro. Em tempo de luto, tempo de diurnos lamentos de dor e “nocturnos silêncios” de respeito, não resistimos a evocar a sua voz prodigiosa, acompanhada pelos trinados da guitarra ou por sumptuosos arranjos orquestrais. Como todos os visionários está destinado à perenidade da memória. Com ele e por ele, continuará a existir “um verso em branco à espera do futuro” no poema do nosso quotidiano.
Imagem: Pormenor de retrato de Carlos do Carmo porJúlio Pomar