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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

O FASCISTA MACHOPOPULISTA DA MASCULINIDADE FRÁGIL

Setembro 25, 2022

J.J. Faria Santos

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A criatura é repelente. Nela não parece existir o mínimo resquício de urbanidade e decência. Invoca permanentemente o nome de Deus em vão, enquanto o seu discurso é uma espiral de ódio, onde se empilham numa orgia asquerosa a grosseria, a misoginia, o desrespeito pelas minorias, a apologia da tortura e da perseguição política, o desprezo pela separação de poderes, a indiferença perante o processo democrático ou a ira perante a liberdade de imprensa. Alicerçada num culto da personalidade que roça a divinização (e raia o cume do ridículo), a criatura julga-se imune e impune, arregimentando e manipulando uma falange nepotista e uma horda de fanáticos ou iludidos. “Jair Bolsonaro não é um canalha acidental. A ausência dos mais leves vestígios de integridade moral constitui a essência da sua personalidade”, escreveu, com contundência, Francisco Assis no jornal Público, em Março de 2020, acrescentando ainda que “tudo no Presidente é do domínio da fraude, da fancaria, da pura indigência mental”.

 

Se a criatura não fosse tão perigosa, na qualidade de titular de um cargo político de poder que agora ameaça não se submeter à alternância democrática, estaríamos no domínio do patético e do risível. Veja-se o episódio do “imbrochável” utilizado como palavra de ordem, que levou o historiador argentino Federico Finchelstein a comentar à BBC News Brasil: “Bolsonaro acaba de celebrar seu próprio pénis num peculiar discurso de Dia da Independência do Brasil. Trump fez o mesmo no passado. Por mais chocante que seja, isso segue um padrão de tendência fascista e machopopulista.” O mesmo órgão de comunicação social ouviu também o  psicanalista Christian Dunker, que notou que "uma característica inovadora do discurso do presidente é que ele usa alternadamente uma retórica do respeito à família, à moral e aos bons costumes, e uma retórica libidinal, do palavreado chulo, da linguagem privada em espaço público", acrescentando que “a reação de Bolsonaro é típica da masculinidade frágil: ele se sente atacado e responde com excesso, exagero."

 

Um grupo de relatores de direitos humanos das Nações Unidas já veio a público revelar a sua preocupação com os ataques ao poder judiciário e ao sistema eleitoral no Brasil, manifestando a sua apreensão pela violência, pelo discurso de ódio e pela campanha de desinformação. Que a eleição presidencial no Brasil seja justa, livre e transparente, e que resulte na remoção do actual titular do cargo, eis o que se deseja. Ruy Castro escreveu no Expresso em Julho: “Nelson Rodrigues tinha uma maneira peculiar de descrever alguém que primasse pela brutalidade e pela estupidez: ‘É um centauro, só que metade cavalo e a outra metade também.’ Ninguém faz tão jus à definição quanto Bolsonaro.” Em Outubro, por vontade do povo brasileiro, a brutalidade ignara será despedida com justa causa.  

 

Imagem: tsf.pt / Lusa / AFP

O TIO DE CASCAIS E O TIOZÃO DO CHURRASCO

Agosto 22, 2021

J.J. Faria Santos

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Parece que a boçalidade e a grosseria são a kryptonite de Marcelo. Na recente visita ao Brasil, Marcelo terá ficado incomodado e mal impressionado com o reportório de “piadas de cunho sexual” e “referências jocosas ao povo português” desfiado pelo oficial e cafajeste Jair Bolsonaro. Nem a sua prodigiosa inteligência, nem décadas de análise política e de frequência dos salões do poder, nem sequer a aclamada capacidade de se sentir à-vontade com o príncipe e com o pobre lhe forneceram ferramentas para lidar com a vulgaridade do Messias do Planalto.

 

Provavelmente, a sua educação religiosa católica (a tal que em matéria de sexo prefere a elipse ou a sublimação espiritual ao reconhecimento da relevância do conhecimento carnal), e a sua frequência dos selectos ambientes onde se movem as classes afluentes (locais em que a lascívia é sussurrada e envolvida em referências literárias ou cinematográficas, e em que qualquer ousadia, cuidadosamente calibrada, é assinalada com um benevolente arquear de sobrancelha) não lhe forneceram ferramentas adequadas para lidar com a baixeza moral e a ausência de sentido das conveniências.

 

Surpresa, não é argumento que possa ser invocado. O cadastro de declarações e comportamentos do Presidente brasileiro já é sobejamente indiciador do que esperar da criatura. Marcelo terá preferido, diplomaticamente, preservar o relacionamento luso-brasileiro. Deixou, pois, o tiozão do churrasco chafurdar na incivilidade e na descortesia, enquanto acumulava um rol de dados para mais tarde narrar, apimentados pela sua proverbial malícia, nas festas com os restantes tios de Cascais ou ao telefone, a ouvidos amigos, nos longos serões de Verão.

 

Imagem: 24.sapo.pt/Lusa

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