TRUMP DESINSTALADO
Novembro 08, 2020
J.J. Faria Santos
Os eleitores, já se sabe, comandam o painel de controlo da democracia. Convencionou-se que o procedimento comummente designado por sufrágio (que inclui a votação por correspondência) termina com a contagem dos votos e a proclamação dos resultados. Num Estado de direito democrático não passa pela cabeça de qualquer candidato com carácter ou noção do ridículo exigir a interrupção da contagem ou a continuação desta ao sabor dos seus interesses ou do seu desgovernado arbítrio. Os americanos escolheram o programa e a figura de Joe Biden e preparam-se para desinstalar Donald Trump.
O derrotado estrebucha. Ao seu estilo: grandiloquente, inane e infundamentado. Os seus correligionários dividem-se entre os que defendem a legalidade e os que não resistem ao servilismo e à partidarite aguda. O Conselho Editorial do Washington Post opinou de forma cortante que “A História recordará quem, em tempos perigosos, ajudou a democracia americana – e quem ajudou o Sr. Trump a debilitar a democracia americana”, e que “não há compromisso possível entre a verdade a as mentiras do Sr. Trump”. Já Maureen Dowd, colunista do New York Times, diverte-se a ridicularizar a reacção e a argumentação do candidato derrotado, notando que para quem era encarado como “o génio maligno da manipulação dos media”, berrar que se está perante uma “eleição roubada” porque está “a perder” é manifestamente patético. Seria de esperar, escreve ela, que ele congeminasse algo de “épico”, “uma conspiração grandiosa”.
Agora que ele foi eleito Presidente, Maureen Dowd vê na carreira política de Joe Biden a prova de que o escritor F. Scott Fitzgerald estava enganado e que, de facto, existem segundos actos na vida americana. Na política existem momentos que requerem um visionário, um audacioso, um portador do archote da esperança e do dinamismo, mas, noutras alturas, o mais importante é restaurar a normalidade, a dignidade e a compostura. É preciso remover o MAGA (Make America Great Again) e anunciar o MADA (Make America Decent Again). E a decência indispensável conviverá com a grandiosidade possível.
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