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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

AI, CHEGA, CHEGA, CHEGA, CHEGA O MEU SOUNDBITE!

Janeiro 29, 2023

J.J. Faria Santos

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André Ventura, a fazer fé da descrição do Diário de Notícias, garante que “"há um único partido que lidera a oposição, que eleva os 'soundbites'" no parlamento, "que se irrita e se enerva, como todos os seres humanos, porque sofre" as "dores que os portugueses estão a sofrer em casa". Talvez seja esta mistura de megalomania, superficialidade e empatia esforçada e/ou parasitária que explica o comportamento de carroceiro que o grupo parlamentar do seu partido exibe no Parlamento.

 

Como bem descreve a jornalista Bárbara Reis em artigo do Público de ontem, os deputados do Chega viram-se envolvidos em vários casos de violência, física e verbal, que incluíram ameaças, empurrões, cabeças encostadas e agressões físicas, ocorridos nos corredores ou em gabinetes da AR. Já no plenário, o comportamento inclui apartes ruidosos, gargalhadas, tiradas ofensivas e gesticulação ostensiva num desrespeito atroz pelos restantes deputados e pelo Parlamento. Bárbara Reis citou Carlos Guimarães Pinto, parlamentar da IL, que afirmou: “Não falam para o lado num tom de voz normal. Gritam.” O que talvez permita concluir que a asserção do primeiro-ministro com referência aos “queques que guincham” errou o alvo; são os “cheganos” que guincham.

 

Não deixa de ser curioso que um partido que, no que diz respeito às forças de segurança, defende uma política que  promova “uma cultura cívica do respeito pela instituição e seus agentes” se comporte na AR como uma associação de arruaceiros. Aliás, o Partido Chega é uma espécie de organização fora-da-lei, cujos estatutos, segundo o Tribunal Constitucional, demonstram “problemas de transparência”, “restrição à livre expressão” e uma “significativa concentração de poderes” no seu líder.

 

O Chega adoptou a firma André Ventura Unipessoal, limitada na clareza, consistência e coerência das suas propostas e ilimitada nas suas ambições. O grande líder clareia a voz, alarga os gestos, estica o pescoço, saca de recortes de jornais, torce a estatística, carrega na demagogia e solta os soundbites, que se “elevam” no Parlamento como se fossem palavras do Deus, por amor a quem, em tempos idos ele se mortificava, usando “materiais religiosos de castigo, como o cilício”. André Ventura é tudo e nada ao sabor das conveniências, com princípios maleáveis e convicções descartáveis. Jorge Castela, colega de faculdade que Ventura contactou com a ideia inicial de “formar um partido próximo do 5 Estrelas italiano”, descreveu-o nestes termos ao Expresso, em Março de 2021: “O André não é racista, fascista, homofóbico ou xenófobo, é um político inteligente, que sabe fazer a leitura das discussões de café. Ele é um surfista. Cavalga a onda que é importante para conseguir captar eleitorado. Não interessa o quê.” Um dia destes, ao executar manobras como o floater ou o aéreo, pode ser que o surfista acabe engolido pela onda.

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