SINDICATOS. ORDENS. DESORDENS
Junho 04, 2019
J.J. Faria Santos
É a lei do mercado. Só a PSP conta com 17 sindicatos (recorde da administração pública). O mais recentemente criado contava em Abril com 27 agentes, todos dirigentes do Sindicato e, portanto, com direito a folgas para a actividade sindical. Segundo contas do DN, já serão mais de 3700 dirigentes e delegados sindicais a auferirem mais de 36 000 dias de folgas. Com tamanha competição pelo troféu da melhor capacidade reivindicativa e maior legitimidade representativa (que o número de associados confere), como estranhar que declarações que causaram “incómodo” ou foram consideradas “inoportunas” tivessem levado a que o vice-presidente da ASPP, Manuel Morais, renunciasse ao cargo. E que afirmou Morais? Que na sociedade e na polícia existe “preconceito étnico”. Como tratou logo de explicar o presidente da ASPP, Paulo Rodrigues, “a malta não sente que haja racismo na polícia”. A “malta” enfurece-se com a admissão de que na polícia existem “preconceitos étnicos”, mas nem pestaneja quando são relatadas numa sentença do Tribunal de Sintra expressões proferidas por agentes do género: “ainda por cima és pretoguês” ou “Pretos do caralho, vão para a vossa terra!”.
Para além dos sindicatos, também as ordens se esmeram na defesa dos seus membros. E a interpretação da lei é suficientemente fluida para que a proibição “de participar em actividades de natureza sindical” não seja impeditiva de que um dirigente de uma ordem possa reunir com um sindicato ou apoiar uma greve. Veja-se o exemplo da sempre activa e reivindicativa Ana Rita Cavaco, que combina um estilo combativo e incisivo com atitudes algo destemperadas. Relembre-se o episódio do mês passado, relacionado com uma sindicância da IGAS, onde a bastonária foi acusada de pontapear a porta de um gabinete, ter proferido “expressões injuriosas” contra os inspectores e sugerido ter estado sequestrada uma funcionária que para a IGAS prestou declarações de forma “colaborante e tranquila”. E, cereja no topo do bolo, ter-se-á apresentado “acompanhada por um cão preto sem trela”. Nos dias seguintes, Cavaco tratou de mostrar nas redes sociais como o dito canídeo é fofo e inofensivo. Para ela, pelo menos. Perante esta patente instrumentalização de um ser senciente, é caso para dizer: onde é que estava o PAN?
Imagem: Manuel Morais