SIMPLISMO E SIMPLICIDADE
Setembro 10, 2019
J.J. Faria Santos
Quando era mais nova, Miuccia Prada sentia-se envergonhada. Parecia-lhe incongruente que nela coexistissem a esquerdista (membro do partido comunista italiano) e a feminista com a criadora de moda. Por outro lado, confessou em entrevista à Vanity Fair de Setembro, na cabeça dela estava tudo ligado, “a moda, a arte, a cultura, a política”. Esta doutorada em ciência política, que faz a apologia da diversidade em tempos de nacionalismos emergentes, explica que as suas novas colecções abraçam o propósito de “explicar a complexidade de uma forma simples, porque as pessoas não têm tempo, têm demasiado informação – mas há algo de negativo nisso. Até onde se pode simplificar sem se cair no risco de dizer nada?”. Eis, colocado de forma cristalina, o grande dilema dos tempos modernos – o risco de saber tudo e nada perceber. Sobrevalorizar a simplicidade até ao simplismo. Confiar na síntese, no lide da notícia, na manchete. Sucumbir ao clickbait, Associar a complexidade a uma conspiração das elites para nos manter sob o seu domínio.
Peter Lindbergh, o fotógrafo de moda recentemente falecido que no princípio da década de sessenta do século passado, enquanto frequentava a Academia de Belas-Artes de Berlim, preferia materializar a inspiração que Van Gogh lhe despertava em vez de “pintar os retratos obrigatórios e as paisagens ensinadas nas escolas de arte”, tornou-se conhecido, na formulação da BBC, “pelo retrato a preto e branco simples e dramático”. Adversário confesso do Photoshop e de maquilhagens exuberantes, Lindbergh defendia que a ausência da cor aproximava as suas imagens da realidade porque não apagava as imperfeições, o que estava de acordo com o que ele considerava “a grande responsabilidade dos fotógrafos do presente, libertar as mulheres, e em última análise toda a gente, do terror da juventude e da perfeição”. Numa entrevista à revista Art Forum, em Maio de 2016, explicou que retocar uma fotografia era “retocar a verdade pessoal de cada rosto”. Como se pode verificar pela fotografia de Meghan Markle para a capa da Vanity Fair de Outubro de 2017, a preto-e-branco ou a cores, Peter Lindbergh procurou estar sempre no ponto de intersecção da simplicidade com a verdade, numa indústria em que o artifício é frequentemente confundido com o sublime e com o vanguardista