QUESTIONÁRIO DE WILDE
Dezembro 30, 2019
J.J. Faria Santos
- Que conselhos daria a quem o admira?
“Dar conselhos é sempre estúpido, mas dar bons conselhos é desastroso.”
- Preocupa-se em ser um homem do seu tempo, ou é por natureza conservador?
“Nada há tão perigoso como ser excessivamente moderno. Existe a tendência para ficar fora de moda sem se dar por isso.”
- O que acha da devassa da vida privada, das indiscrições?
“É perfeitamente monstruoso apercebermo-nos de que as pessoas dizem coisas nas nossas costas, coisas que são absoluta e completamente verdadeiras.”
- Como reage nessas circunstâncias?
“Não presto a mínima atenção ao que dizem as pessoas vulgares e não interfiro nunca no que fazem as pessoas interessantes.”
- Nunca faz confidências?
“Nada há de mais interessante do que contar a um homem bom ou a uma mulher de bem até que ponto nos comportámos mal. É imenso o fascínio intelectual. Um dos grandes prazeres encontrados na má conduta é o de haver tantas coisas para dizer aos bem comportados.”
- Em que diferem um santo e um pecador?
“A única diferença entre santos e pecadores é que todos os santos têm um passado e todos os pecadores têm um futuro.”
- Que importância atribui à experiência?
“A experiência não tem qualquer valor ético; é apenas o nome que os homens dão aos seus erros.”
- Como seleciona as pessoas com quem se relaciona?
“Escolho os meus amigos pelo seu bom aspecto, os meus conhecimentos pelo seu bom carácter e os meus inimigos pelo bom uso que fazem do seu intelecto.”
- É supersticioso? Acredita no destino?
“Os presságios não existem. O destino não nos envia mensagens. É demasiado cauteloso ou cruel para tanto.”
- Como definiria a diferente expectativa que homens e mulheres têm em relação ao amor?
“Todos os homens querem ser o primeiro amor de uma mulher. É essa a sua desastrada vaidade. As mulheres têm um sentido mais seguro das coisas. Do que elas gostam é de serem o último amor de um homem.”
- Preocupa-o o fenómeno das fake news?
“O objectivo do mentiroso é simplesmente o de agradar, de encantar, de dar prazer. É a base da sociedade civilizada. Caso um homem tenha pouca imaginação para arranjar provas para a mentira, deve então dizer, de imediato, a verdade.”
- E a proliferação dos populistas autocratas?
“Existem três tipos de déspotas. Há o déspota que tiraniza o corpo. Há o déspota que tiraniza a alma. E há o déspota que tiraniza simultaneamente o corpo e a alma. O primeiro chama-se o príncipe. O segundo chama-se o papa. O terceiro chama-se o povo.”
(Nesta entrevista/questionário ficcionada, as “respostas” de Oscar Wilde têm por base excertos constantes do livro “Aforismos”, editado pela Contexto, com tradução de Levi Condinho.) Imagem: Wikimedia Commons