QUEDA E ASCENSÃO
Junho 07, 2016
J.J. Faria Santos
Imaginem por um momento que experimentam uma dolorosa sensação de fracasso que vos deixa prostrados. Não é difícil: todos já tivemos momentos em que o mundo parece desabar sobre nós, umas vezes por razões ponderosas, outras por motivos fúteis que adicionam uma nota de ridículo ao nosso drama pessoal. Assim qualquer coisa como o descrito pelo narrador de As Primeiras Coisas de Bruno Vieira Amaral: “Saí para o mundo convicto da vitória e regressei, cabisbaixo, com o fardo do meu fracasso. Não importa detalhar o insucesso. Direi apenas que a queda não foi tão espectacular que me levasse a acreditar no destino, nem tão imperceptível que não me envergonhasse. Foi um fracasso ordinário e marcante. No final nem sequer tive direito a uma depressão, à varanda de onde pudesse usufruir da contemplação pantanosa de uma vida cheia de estilhaços.”
Imaginem agora que acreditam no poder redentor da música popular. Como um salmo profano, Rise up é uma daquelas canções soul com laivos gospel destinadas a elevar o espírito acima dos tormentos existenciais (uplifting como diriam os anglo-saxónicos). Esta canção de combate está incluída no álbum de estreia de Andra Day, Cheers to the Fall, editado no ano passado. Day, que foi nomeada para dois Grammies, é uma talentosa cantora e compositora americana com um timbre vocal que despertou comparações com Billie Holiday e, sobretudo, com Amy Winehouse. Spike Lee realizou o vídeo do primeiro single, Forever Mine, ao passo que a direcção do teledisco de Rise Up ficou a cargo de M. Night Shyamalan. Que faz jus a um trecho que parte do silêncio que inquieta, e do abatimento derrotado, para promover a ressurreição da motivação. Com esperança e persistência é possível colar os “estilhaços”. E recomeçar.