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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

OS FOCUS GROUPS DE MARCELO E A CAÇA AO COSTA

Julho 11, 2017

J.J. Faria Santos

Primeiro foi a reunião privada com alguns dos seus conselheiros em Belém. Marcelo terá visto na tragédia dos incêndios, segundo a formulação da jornalista Ângela Silva no Expresso, “um ponto de viragem no estado de graça do Governo”. Os participantes neste núcleo íntimo terão apreciado este “susto da geringonça” que contribuirá para impedir uma hipotética futura maioria absoluta de Costa. Mesmo assim concedem que a popularidade do Governo não terá sido significativamente afectada. E, explica a jornalista, “o PR, mesmo sendo o primeiro na escala, não quer guerras com quem continua em alta”.

 

Depois veio a reunião com toda a equipa, temporalmente depois de Pedrógão e antes de Tancos, cujo conteúdo vem descrito no Expresso do passado sábado. O próprio PR terá definido a gestão política do Governo como má, “talvez por cansaço, sobranceria e falta de oposição”, mostrando-se convicto de que a crise pode “alargar o poder do Presidente”. Mesmo aventando a hipótese de cansaço, Marcelo terá discordado das férias de Costa. Quanto à falta de oposição, respondeu em tempo recorde a um pedido de audiência de Assunção Cristas e tê-la-á avisado de que a sucessão de demissões conduziria a uma moção de censura. Terá sido um aviso (uma especialidade marcelista, dado que não passa uma semana sem que um jornal, uma rádio ou uma estação de televisão não dê conta de uma qualquer advertência presidencial) ou uma sugestão?

 

Como se percebe facilmente, a diferença entre o focus group encomendado pelo PM ou pelo PS e os focus groups informais do PR é mínima. A diferença pode estar na divulgação nas letras gordas de uma manchete ou nas páginas interiores de um semanário. E, sobretudo, na perspectiva subjectiva de quem lê, que pode fazer leituras diametralmente opostas de uma legítima avaliação da situação política. De uma lado, o Marcelo interessado na consolidação do seu poder de forma a exercer mais eficazmente a sua missão de provedor dos afectos e consolador dos aflitos; do outro, o Costa sedento de poder a qualquer preço, cínico, sem escrúpulos e sem “fibra de líder”.

 

Espicaçado pelas circunstâncias, o Dr. Passos Coelho vai progressivamente perdendo a sua pose de estadista e multiplicando as tiradas demagógicas e populistas, ao passo que a Dra. Cristas pondera uma moção de censura (ambos têm um gigantesco sentido de Estado, que como se sabe é património imaterial da direita). A brigada liberal de bloggers e líderes de opinião carrega nos adjectivos com que qualifica o primeiro-ministro e com que pinta um cenário de apocalipse, agora. Na amálgama, a ausência de férias do primeiro-ministro nas Baleares é tão grave quanto o roubo de Tancos. Deploram o que chamam de “social-comunismo” e de “experiência do Terceiro Mundo às portas da Europa”, e dizem que Portugal está nas “mãos de criminosos”. Pelo meio, lamentam a suborçamentação dos organismos do Estado, o tal que era gordo, anafado e ineficiente. Costa é o alvo a abater e Marcelo insuficiente na defesa da causa liberal.

 

Que saudade que eles têm do tempo da austeridade expansionista, do viver abaixo das nossas possibilidades, dos níveis recorde de desemprego e pobreza, tudo em nome da grande marcha para a regeneração. Era um tempo em que não havia corporações, nem grupos de pressão, nem clientelas. Portugal renascia revigorado sob a batuta do grande líder Passos Coelho inspirado pelo guru Schäuble. Depois, vieram as eleições e Portugal suicidou-se ao permitir que o líder de uma seita heterodoxa tomasse o poder, ouviu dizer Passos Coelho. E passou a repetir, mesmo sem saber se a informação tinha sido confirmada.

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