O QUE DIZEM OS COMENTADORES (DE PEDRO NUNO E DO PS)
Janeiro 14, 2024
J.J. Faria Santos
Presume-se que os comentadores e analistas não vivam numa realidade paralela, mas depois lê-se o que António Barreto escreveu sobre o novo secretário-geral do PS (“Pedro Nuno Santos, depois de obra mal feita e antes mesmo de obra nova, tem o favor da imprensa como raros políticos recentes.”) e ponderamos se ele terá acabado de chegar de Marte. “O favor da imprensa?”, a sério? Todos os dias a ser confrontado com acusações de imaturidade, a ser recordado da tirada de não pagar a dívida, acusado de informalidade na sua acção como ministro, a quererem colar-lhe à força o rótulo de radical, a acharem que deveria ter resolvido a crise da habitação no período de tempo em que foi governante com essa pasta?
Apesar de ter escrito no Expresso que “Pedro Nuno disse mais em vinte minutos de discurso sobre políticas alternativas e preocupações de futuro do que o PSD em oito anos”, Miguel Sousa Tavares não o tem em grande conta. Já João Vieira Pereira, director do semanário, acha que a estratégia do líder do PS para as próximas eleições “é demasiado simples, mas muito eficaz”, tendo o gravíssimo inconveniente de mesmo que seja “eleito ao centro, irá governar à esquerda”. Como se infere, para ele, um partido da família da social-democracia e do socialismo democrático governar à esquerda é um contra-senso. Miguel Poiares Maduro, no mesmo jornal, lamenta que Pedro Nuno se preocupe mais com a “necessidade de decidir” do que com o “processo de decisão”. Receia as decisões de “políticos iluminados”, preferindo um enigmático “processo independente de avaliação técnica do mérito” das opções. Aposta talvez na decisão “iluminada” da tecnocracia para moderar os impulsos dos políticos portadores da legitimidade democrática conferida pelo voto?
Se passarmos do líder ao partido, a opinião de Amílcar Correia, redactor principal do Público, resume os dois pontos essenciais do argumentário para remover o PS do poder: “os eventuais inconvenientes da mexicanização da política portuguesa” e “a forma trapalhona e indigente como [o PS] desbaratou a confiança do eleitorado”. “Desbaratou a confiança” como? Com a crise na habitação, com as insuficiências do SNS e com a instabilidade no elenco governativo, por exemplo? E que peso terão na decisão de 10 de Março, por exemplo, o crescimento económico acima da média da UE, a gestão da pandemia e das consequências de uma guerra na Europa, o aumento dos rendimentos, a descida do desemprego, os apoios sociais concedidos, a recuperação do poder de compra e o controlo do défice e da dívida?
No seu artigo semanal para o Expresso, sob o título Será possível o PS ganhar, Luís Aguiar-Conraria escreveu que a noção de que atravessamos uma “crise generalizada é uma criação mediática”, considerando que quem receia o futuro “prefere manter o Governo que lhe tem garantido o conforto de uma situação financeira estável”. Para ganhar o voto, é necessária uma “oposição competente”, acrescentou. O que nos remete para a questão da mexicanização do regime, cujo risco e responsabilidade tem de ser partilhado, pelo menos, pelos dois partidos hegemónicos do arco do poder.
Imagem: Cartoon de Cristina Sampaio para o Público