O PAI DA SENHORA MINISTRA
Agosto 18, 2024
J.J. Faria Santos
O pai da senhora ministra é, nas imorredoiras palavras da compagne de route, entrevistadora extraordinaire e comentadora de alto coturno Maria João Avillez, um “fino analista político”, um “intelectual sólido”, um “homem civilizado” e um “comentador desassombrado”. O comentador é tão “desassombrado” que até já afirmou algo próximo da heresia, como a ideia de que “o cavaquismo foi importante, mas não mudou o destino do país”, e que “o soarismo foi importante e será o ‘ismo’ que a História perpetuará”.
O pai da senhora ministra admite que “tem muito passado” e “não tanto futuro quanto gostaria”. Diz-se um “homem livre e sem medo”, que “ama a liberdade acima de tudo”, politicamente estacionado na “fronteira da luta contra os populismos de direita ou de esquerda”. Outrora destacado responsável político na cúpula de um movimento armado de extrema-direita (até os “homens civilizados” precisam de uma pausa entre o bruto e o bestial), brilha agora como comentador num canal por cabo. Em Outubro de 2016, em entrevista à revista Sábado, fez questão de evocar as palavras do fundador do PSD: “Sá Carneiro dizia que eu era o melhor comentador, o Marcelo ficava um bocadinho ciumento”.
Recentemente, o pai da senhora ministra decidiu reclamar para si o papel de provedor da SIC Notícias, de guardião das boas práticas do jornalismo. Agastado com uma notícia da jornalista Vera Lúcia Arreigoso acerca do plano de emergência governamental para a Saúde, que alegadamente teria desrespeitado a regra básica de ouvir o ministério respectivo, o comentador jubilado, entre o arrogante e o paternalista, mimoseou Nelma Serpa Pinto com tiradas deste género: “Percebeu o que eu disse ou não quer perceber o que eu disse? Você não andou na escola de jornalismo?”
O tom com que o pai da senhora ministra disse “essa senhora chama-se Vera Arreigoso” soou a condenação à lista negra dos jornalistas que não são simpáticos para a causa (como a lendária Avillez). Como diria o ministro Rangel, não andará por aqui um perfume de “claustrofobia democrática”?