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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

O IMPOSSÍVEL NEM SEMPRE É IMPROVÁVEL

Fevereiro 05, 2019

J.J. Faria Santos

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Porque é que nos prendemos tanto ao conceito de verosimilhança se a realidade desafia essa ilusão a toda a hora? Submetemos tudo a um critério que mede a aparência de verdade, mas essencialmente temos tendência a avaliar as probabilidades de algo ser, ou poder vir a ser, real, palpável, inscrito nas nossas emoções ou no nosso intelecto. Se considerarmos que a verdade é uma espécie de conformidade com a realidade, e que esta é mutável e surpreende a mais prodigiosa imaginação, talvez fosse prudente alterar a nossa propensão para sermos submissos perante a verosimilhança. Será mais gravosa a possibilidade de mergulharmos num lago de plácidas ilusões do que sermos submergidos por uma onda fétida de mentiras que a implausibilidade nos impediu de antecipar?

 

Em entrevista recente ao Expresso, instado a comentar uma afirmação anterior onde explicitara que a literatura por vezes renunciava à verosimilhança para chegar à verdade, Jonathan Littell respondeu à jornalista Luciana Leiderfarb nos seguintes termos: “A literatura não precisa da verosimilhança, a realidade sim. Conhece algo mais inverosímil do que Donald Trump? Era impossível imaginar que alguém como ele, que parece ter saído directamente de um reality show, seria hoje Presidente dos Estados Unidos da América. Era para lá do implausível, mas é a realidade, Por esta razão, a plausibilidade não me interessa muito. A verdade literária sim. É inteiramente de outra ordem.”

 

Se no acto de criação, se no universo da ficção, acolhemos de bom grado as pinceladas de fantasia e improbabilidade, porque não estender essa suspensão da descrença às cenas da vida real? Aprender a esperar o inesperado, mesmo com todo o seu potencial de disfuncionalidade, talvez nos ensinasse a questionar o que damos como adquirido e nos preparasse melhor para combater os que semeiam a discórdia e o conflito enquanto fingem ser os provedores dos nossos anseios.

 

Imagem: Courtesy of Bert Christensen

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