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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

O GOVERNO EM MOVIMENTO QUE NÃO DESCOLA

Fevereiro 02, 2025

J.J. Faria Santos

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Portugal está em movimento. O PRR está em movimento. O Governo está em movimento. Como num espectáculo de La Féria (ou um Big Show Sic do século XXI), é tudo cor, luz, energia e brilho, PowerPoints e silêncios carregados de significado ou de insignificâncias. Como afirmou o primeiro-ministro: “Não viemos para olhar ou criticar o passado, viemos para cuidar do presente e construir o futuro.” Não me parece avisado não olhar para o passado e a ideia de sugerir que se vai renunciar a criticar o mesmo passado só pode ser uma involuntária tirada de humor rural.

 

Em meados de Janeiro, porventura entusiasmados pela forma como o presente estava a ser cuidado (ou imbuídos do espírito natalício, já que os trabalhos de campo decorreram entre 28/12/2024 e 5/01/2025), 62% dos inquiridos pela “grande sondagem” da Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF, JN e O Jogo (400 entrevistas telefónicas / taxa de resposta de 65,36%) declararam aprovar a actuação do Governo, com 32% a manifestarem desaprovação. Na intenção de voto, a AD apresentava uns robustos 32,9%, seis pontos percentuais à frente do PS, que, contudo, caíam no empate técnico, visto que os “intervalos” eram grandes (entre 28,2% e 37,6% para a AD e 22,4% e 31,3 % para o PS.)

 

Quatro dias depois do fim dos trabalhos de campo da Pitagórica, a GfK Metris iniciou os seus, no âmbito da sondagem ICS/ISCTE para o Expresso e para a SIC, tendo-se prolongado até 20 de Janeiro. Contactou  3039 lares e obteve 805 entrevistas válidas. O desempenho do Governo foi avaliado como mau ou muito mau por 45% dos entrevistados, ao passo que 41% o consideraram como bom ou muito bom. A AD liderava as intenções de voto (2% à frente do PS em “intenção directa de voto” e 3% de vantagem com “imputação de indecisos”.)

 

No dia seguinte ao fim dos trabalhos de campo da GfK Metris, foi a vez da Intercampus iniciar a recolha de informação para o barómetro de Janeiro do CM/CMTV/Jornal de Negócios, que se prolongou até ao dia 26 de Janeiro.Nas intenções de voto mais um empate técnico, com ligeira vantagem para o PS, 24,7%, comparado com os 24,4% da AD. Numa escala de 1 a 5, o Governo é avaliado com 2,8 (a mesma classificação do Presidente da República e da Assembleia da República, mas abaixo do Banco de Portugal…)

 

Na análise do Expresso, o Governo nem “descola” do PS nem está em “estado de graça”. O Governo em movimento não descola, não ganha asas, tem a ambição de uma grande viagem, mas receia não ter combustível no depósito. Apostando na gestão do curto prazo, cria a ilusão do reformismo com grupos de trabalho e proclamações retóricas do género: “vimos implementando transformações estratégicas e estruturais”. Liderado por um primeiro-ministro pouco inspirador, coadjuvado politicamente por Manuel Castro Almeida e pelo de facto ministro da propaganda, António Leitão Amaro (que é, porém, segundo Ana Sá Lopes, “um doce”), que tem o Governo para oferecer, depois de ter satisfeito as reivindicações de algumas corporações, para além de um crescimento do PIB inferior ao dos anos transactos? A continuação do equilíbrio orçamental (incluindo a compressão do investimento público), o experimentalismo catastrófico na Saúde e a promessa de mais um grupo de trabalho (com uma composição enviesada) para estudar a sustentabilidade da Segurança Social? A poupança fiscal? E estará o eleitorado disponível para aceitar um trade-off que implique a degradação do Estado social?

 

Imagem: Jornal Expresso

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