O GENTLEMAN E O HOOLIGAN
Setembro 12, 2021
J.J. Faria Santos
Circunstâncias do ciclo noticioso e das inexoráveis leis que regem a vida humana contribuíram para que as figuras de Jorge Sampaio e Jair Bolsonaro ocupassem em simultâneo espaço nos meios de comunicação social, tornando inevitável a percepção de uma dissonância evidente entre o comportamento e o carácter de um e do outro. De tal forma que se tornou irresistível atribuir ao primeiro o epíteto de gentleman e ao segundo o de hooligan.
Em Jorge Sampaio reconhecemos uma educação esmerada, um exemplar sentido cívico, um comportamento guiado por princípios e valores, um inultrapassável sentido de Estado com respeito escrupuloso pela separação de poderes e uma empatia pelos deserdados da vida, em suma, na síntese de José Manuel dos Santos, “um homem tão elegantemente educado e tão humanamente solícito”.
Já em Jair Bolsonaro tudo nos remete para a boçalidade, para a ausência de escrúpulos, para o desprezo pela democracia, para o desrespeito pela separação de poderes e para a incapacidade de aceitar o contraditório, revelando não reunir qualidades para exercer o cargo de relevo que ocupa. Como escreveu Francisco Assis em Março de 2020 no Público: “Jair Bolsonaro não é um canalha acidental. A ausência dos mais leves vestígios de integridade moral constitui a essência da sua personalidade (…) Tudo no Presidente brasileiro é do domínio da fraude, da fancaria, da pura indigência mental.”
No momento em que Portugal se despede de um homem bom, que indigitado para cargos de poder exerceu-os de forma a conciliar vontades para fazer o bem, no Brasil, um indivíduo desqualificado compraz-se em incitar à desordem, atacar as instituições democráticas e até insinuar a iminência de um golpe militar. A única sublevação admissível é a do povo brasileiro, que utilizando o poder do voto e os mecanismos do Estado de direito se deve urgentemente ver livre deste hooligan.
Fotos: Jorge Brilhante/Museu da Presidência (J.Sampaio) e Alan Santos/PR (J.Bolsonaro)