O GALÃ IMPROVÁVEL
Janeiro 16, 2014
J.J. Faria Santos
A revista Closer avançou com a notícia do possível envolvimento de François Hollande com a actriz Julie Gayet e a França política e mediática agita-se, enquanto o cidadão comum oscila entre a indiferença (84% dos inquiridos numa sondagem Ifop declararam que a sua opinião acerca do Presidente não se alterou) e a protecção da vida privada (77% opinaram que se trata de um assunto particular que apenas diz respeito a Hollande). Contrariando a ideia de que o populismo e as cedências e os compromissos da comunicação social de referência são apenas um imperativo de sobrevivência face ao gosto maioritário das audiências, cada vez se torna mais difícil perceber qual é a causa e qual é o efeito. Círculo vicioso, relação simbiótica, são chaves de leitura possíveis.
François Jost, semiólogo, condena, no site do Nouvel Observateur , a “instrumentalização da emoção” e a “apropriação” da informação dita séria por parte dos paparazzi e da estética tablóide. Por outro lado, deplora quer a politização demagógica presente em interrogações do género “Como é que um Presidente ainda tem tempo para dedicar a uma amante? Porque não se preocupa mais com o desemprego em vez de perder horas preciosas com ela?”, quer o puritanismo de quem encara a actividade política como uma “ascese obrigatória”.
François Jost termina o seu artigo com uma análise prosaica das motivações daqueles a quem ele apelida de “ paladinos da ordem moral”, considerando legítimo que nos interroguemos se o que mais os revolta não será o facto de “um homem não especialmente atraente seduzir mulheres tão belas”. Não se espantem, aconselha Jost, “isto pode acontecer mesmo a um homem ‘normal’.”
Eis um aspecto a celebrar – que a sedução não seja um território de exclusão. Que não discrimine em função da idade, do nível social ou de conceitos estéticos dominantes. Que se manifeste na diversidade. Que tenha pergaminhos democráticos.