O CASAMENTO QUE O PAPA NÃO CELEBROU
Fevereiro 16, 2016
J.J. Faria Santos
Ele é um célebre cirurgião, mundialmente reconhecido e pioneiro no transplante de orgãos sintéticos. Ela é uma produtora americana do canal NBC News e preparava um documentário sobre ele. A relação profissional transbordou para o terreno pessoal, com jantares sossegados mas frequentes, e posteriormente para um reduto mais íntimo com um (nas palavras dela) “incrível fim-de-semana romântico” em Veneza. As rosas vermelhas e as viagens de gôndola cimentaram a relação amorosa, culminando num pedido oficial de casamento no dia de Natal de 2013. Seguiram-se viagens às Bahamas, à Turquia, ao México, à Grécia e a Itália. Paolo entregou a Benita um anel de noivado, enquanto explicava que o processo de divórcio (sim, era casado) estava na iminência de ser decretado.
O casamento foi marcado para o dia 11 de Julho de 2015. Em Roma. Mais tarde, o noivo informaria a noiva que o Papa Francisco, após uma audiência de 4 horas, não só autorizara o casamento religioso (eram ambos divorciados) como conduziria ele mesmo a cerimónia, a ter lugar na sua residência de Verão em Castel Gandolfo. Entre os convidados, Paolo revelou, estariam Vladimir Putin, o casal Obama e Bill e Hillary Clinton. Luxuosos convites, gravados com as iniciais B & P, foram preparados com o endereço de personalidades como Kofi Annan, John Legend, Elton John e Russell Crowe. Andrea Bocelli teria sido contratado para cantar durante a cerimónia.
A derrocada do conto de fadas começou quando mão amiga enviou a Benita um e-mail com uma ligação para uma notícia que anunciava a visita do Papa à América do Sul na data marcada para o casamento. Paolo ainda tentou alegar uma confusão na agenda de Francisco, atribuindo-a a questões políticas do Vaticano, mas algumas semanas depois Benita enviou mensagens electrónicas a convidados de 17 países distintos anunciando o cancelamento do matrimónio.
A história é narrada pelo jornalista Adam Ciralsky na Vanity Fair de Fevereiro e anunciada na capa sob o título “Um noivado para recordar e um casamento para esquecer”. Questionada por Ciralsky acerca da sua credulidade, Benita Alexander justificou-a com a fama e o prestígio de Paolo Macchiarini. “Não era um tipo que eu engatei num bar”, frisou. E acrescentou, porque haveria ele de inventar tudo isto e arriscar pôr em risco a sua reputação?
O documentário, intitulado A Leap of Faith, acabou por ser nomeado para um Emmy. Mas como este facto lisonjeiro foi suficiente para desgostar Benita (“apetece-me vomitar”), não é crível que siga, no que diz respeito a Paolo, o código de comportamento sugerido por Fernando Pessoa em carta a Ofélia Queiroz: “Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passar por si, nem que tenha de mim uma recordação em que entre o rancor”. As cartas de desamor também são ridículas? Talvez…mas não mais que as ilusões românticas (actos de fé?) que não recuam nem perante a megalomania.