O ALEXANDRE LUTA PELOS POBRES (E COMBATE A DITADURA)
Março 12, 2019
J.J. Faria Santos
“Os pobres fizeram-se para a gente os transformar em classe média e depois subirem se possível. É para isso que a gente luta”, declarou Alexandre Soares dos Santos ao Observador. Nunca é excessivo sublinhar este esforço de guerreiro, ainda para mais vindo de quem defende que “estamos numa ditadura do Estado. Nós vivemos em ditadura. Porque somos obrigados, para tudo, a ir ao Governo pedir uma licença”. Já na Polónia, rejubila Alexandre, é “toca para a frente”, “cumprindo a lei tudo anda”.
Pormenores de somenos serão certamente o condicionamento dos meios de comunicação e a interferência descarada no poder judicial perpetrados pelo governo polaco. Ou o facto do último relatório da organização Freedom House continuar a denunciar o pujante compadrio reinante nas instituições governamentais, e o patente desprezo pelos peritos e organizações da sociedade civil no processo de elaboração de leis, a que se soma uma escassa disponibilidade para acomodar alterações ou fomentar o debate. Talvez a maior vantagem que o sempre incisivo Alexandre encontre na ladina Polónia em relação à “ditadura estatal” portuguesa resida no facto de, para citar a Freedom House, apesar de ter “um movimento sindical robusto (…) procedimentos legais complexos dificultam o recurso à greve”. E, claro, parece óbvio que para a “transformação” dos pobres é indispensável que trabalhem.
Alexandre é “cristão” mas “discorda profundamente da Igreja Católica” na forma como ela trata os pobres. Tratar alguém com insuficiência de meios como um “coitadinho” que “tem que ser ajudado (…) é ajudá-lo a ser pobre”. Claramente, ele não acredita que a Igreja os “transforme” em classe média; essa é uma prerrogativa dos empresários visionários. Se esta noção parece paternalista, arrogante e até ofensiva é porque, como explicou António Guerreiro no Público (Ípsilon) da passada sexta-feira, referindo-se ao líder histórico do grupo Jerónimo Martins, “ele faz questão de afirmar que tem nas suas mãos os comandos do ascensor social (ou diz-se antes elevador?), deixa bem claro que essa deslocação vertical é por ele controlada e tutelada”.
Mas como Guerreiro fez questão de notar, os pobres não aspiram à classe média (podem ser pobres, mas não são tacanhos, calculo); desejam ardentemente ser ricos. É que nesse patamar intermédio, diz o articulista, “ora são considerados ricos porque estão além do limiar dos pobres; ora são considerados pobres porque estão abaixo dos ricos”. Acontece que a frase do Alexandre tem a subtileza que a generalidade do seu discurso dispensa. Ele não cerceia a ambição do pobre. Ele pode “subir se possível”. E o que é que pode impedir essa ascensão? Com grande probabilidade, a resposta que os lábios do empresário não articularam só pode ser uma: a meritocracia. Se não for possível, fica em lista de espera. Mas não desespera, porque o Alexandre luta por ele. É uma missão de vida. Seguramente mais relevante que a doutrina social da Igreja.