NA CAMA QUE FARÁS, NELA TE DEITARÁS
Março 19, 2019
J.J. Faria Santos
Pode um homem adulto de 34 anos dormir na mesma cama com um rapaz de 13 anos mais de trinta noites consecutivas, ainda que o faça na casa da mãe do rapaz? E por que razão o faria? Uma desesperada e patética tentativa de recuperar uma infância perdida ou nunca vivida? E esta lacuna emocional justificaria colocar-se numa posição dúbia que poderia dar azo (como deu) a suspeitas de comportamento imoral e ilegal? Esta partilha do mesmo leito entre Michael Jackson e Jordie Chandler acabaria por dar origem, na sequência de um processo judicial, a um pagamento de 18 milhões de dólares ao rapaz e 2,5 milhões a cada um dos pais.
Até ao momento, são já cinco os rapazes que partilharam a cama com Jackson que o acusaram de abuso sexual. Os mais recentes depoimentos foram divulgados por dois (agora) adultos no documentário Leaving Neverland. Ironicamente, ao tentar resgatar a sua infância, Jackson destruiu a dos seus alvos de afeição. Os indícios são suficientemente graves, alguns pormenores reforçam a credibilidade das acusações, mesmo quando a ausência ou a impossibilidade do contraditório é significativa. A Terra do Nunca adquire neste contexto um significado sombrio – a concretização de certas fantasias está interdita aos que se recusam a crescer.