MISCELÂNIA EM FIM DE ESTAÇÃO
Setembro 17, 2014
J.J. Faria Santos
"Summer Evening" de Edward Hopper (Courtesy of www.bert.com)
A semana passada parece ter sido fatal para os Bentos. O da selecção viu-se dispensado com “muita tranquilidade” como corolário da derrota da selecção portuguesa com a Albânia; o do banco, do Novo Banco, mesmo depois de ter fechado a venda da Tranquilidade ao fundo Apollo, juntou-se ao lote dos líderes brilhantes que se revelam erro de casting. Carlos Costa, por seu lado, tinha em stock um Cunha.
Na mesma semana em que António José Seguro nos assegurou que “vivemos um momento muito histórico”, Pedro Passos Coelho respondeu às declarações de Aníbal Cavaco Silva que visavam, como habitualmente, proteger o seu legado histórico. Disse o primeiro-ministro que informou o Presidente de tudo o que sabia, e que pediu a Carlos Costa que se reunisse com Cavaco Silva, tendo este tido ocasião de “colocar todas as questões que entendia pertinentes”. Conclusão: para evitar declarações peremptórias tragicamente erróneas talvez o Presidente devesse ter colocado questões impertinentes.
Li no site do Nouvel Observateur que François Hollande também considera a publicação do livro da ex-companheira Valérie Trierweiler “um acontecimento histórico”, “uma espécie de crime passional em trezentas páginas”. Qual a semelhança entre Trierweiler e Seguro? Ambos se sentem traídos. Mas enquanto a francesa tem o charme das criaturas despeitadas e vingativas que povoavam o film noir da época dourada de Hollywood, ao (ainda) secretário-geral do PS, com uma longa carreira política e uma propensão acentuada para a demagogia, falta frescura para pretender equiparar-se ao Mr. Smith protagonizado por James Stewart no filme de Frank Capra.
Chama-se The Bridge, e a Fox exibe a segunda temporada. Vale pela atmosfera, pelo enredo intrincado (alguns dizem com demasiadas ramificações que denunciam hesitação no desenvolvimento da história) e pelos desempenhos dos actores ao serviço de personagens que escapam à unidimensionalidade. Diane Kruger é notável compondo uma Sonya Cross, a detective com síndrome de Asperger, em que se equilibram a fragilidade, a determinação e a ausência de capacidade de empatia, num cenário de espiral de violência. Nos secundários, a actriz alemã Franka Potente brilha ao criar uma Eleanor Nacht simultaneamente sinistra, impiedosa e trágica.
Electrónica, rhythm’n’blues, ecos de trip-hop, batidas secas em staccato, vocalizações enigmáticas, tudo a desembocar numa obra acabada harmoniosa. Ideal para escutar em noites de fim de Verão, quentes com um módico de chuva, quando os corpos recusam a dança mas abominam o conforto almofadado dos interiores. Crónicas de amor, desamor e desejo preenchem LP1, o álbum recente da britânica FKA Twigs. “All those years in isolation / helped me want for you”, canta ela em Closer. E mais à frente anuncia: “closer / I’m here to be closer”. Nós também a queremos junto de nós. Dos nossos ouvidos.