LAURA, ROUBARAM-ME A LEGISLATURA!
Julho 19, 2016
J.J. Faria Santos
Em entrevista ao Diário de Notícias, ele diz que “a retórica política do governo é cínica”. E quando aplicada ao sistema financeiro é mesmo “incendiária”. E porque as pessoas, “mesmo as mais conhecedoras e eruditas”, “fazem regras de três simples” acerca das necessidades de recapitalização da banca, “revolta-se” com o agravamento da percepção do risco. Teme que “mal o BCE corrija a política monetária”, o país fique “esganado”. E em relação às sanções, não entende “o que se está a passar”. Diz que “não vale a pena estar a invocar o passado” se o problema é a “trajectória que está a ser seguida”. E sentindo-se espoliado, proclama: “O governo tem o dever de cumprir a legislatura que roubou”.
Esta última afirmação só tem duas leituras possíveis. Ou Pedro Passos Coelho atingiu a estratosfera da demagogia, do populismo e da falsidade, ou trata-se de um caso cristalino de descontrolo emocional. Pacheco Pereira diz que ele “mantém a compostura de primeiro-ministro no exílio” e que “traz a bandeirinha à lapela e a zanga com o destino que lhe deu a geringonça no bolso” (Público). E é lendária a sua frieza, mas…terá perdido essa compostura?
Ora vejamos: acha que lhe subtraíram um bem com recurso à violência (roubo), demonstra dificuldades de compreensão, experimenta um sentimento de revolta e perspectiva a possibilidade de um país estrangulado a baloiçar no cadafalso. Daqui até ao delírio poderá ser um pequeno passo. Como apelar à intervenção de Joana Marques Vidal ou solicitar a mediação da União Europeia ou até mesmo da NATO. Em sonhos, numa breve distracção do estado permanente de alerta, poderá mesmo imaginar o juiz Carlos Alexandre a ordenar a detenção dos cabecilhas da geringonça. Por furto inqualificável. Enfim, façamos uma leitura mais benigna da patética tirada – tudo não terá passado de um “momento Trump” ditado pelo ressentimento.