LA RÉSISTANCE
Dezembro 02, 2015
J.J. Faria Santos
Ian McEwan escreveu na New Yorker que “na Europa pós-cristã, os santuários espontâneos em locais onde ocorreram tragédias públicas se tornaram uma forma de arte popular”, e que “as velas, as flores e os cartões” são um testemunho de “algo profundo, mais vital que sobrenatural”, desgosto e sofrimento, sim, mas também uma “necessidade profunda” de fazer parte de uma “comunidade”.
É esta comunidade que, de acordo com a visão de Matt Vella na Time, se manifesta em Paris não de forma “vingativa mas digna e desafiante”. Vella descreve uma cidade que “transforma o vaguear sem destino em filosofia”, e que “constantemente se interroga ‘O que é a beleza?’ e coloca as hipóteses de resposta na rua para todos verem”.
Na terceira semana após os ataques terroristas, por entre as compreensíveis promessas políticas de combate impiedoso ao Daesh, a necessidade de preservar um estilo de vida assente na liberdade sem comprometer a segurança, e as por vezes levianas proclamações definitivas de especialistas instantâneos em terrorismo ou religião comparada, apetece fazer sobressair esta comunidade de cidadãos que esconjura o medo da morte para defender um modo de vida.