ELITERÁRIO
Maio 20, 2015
J.J. Faria Santos
Na Vanity Fair de Maio, Christopher Buckley informa-nos que “aos 84 anos, tendo escrito mais de 40 livros e ensinado Literatura em Yale durante 59 anos”, Harold Bloom acaba de escolher, na sua obra mais recente, os 12 escritores americanos de eleição, que são: Walt Whitman, Herman Melville, Ralph Waldo Emerson, Emily Dickinson, Nathaniel Hawthorne, Henry James, Mark Twain, Robert Frost, Wallace Stevens, T. S. Eliot, William Faulkner e Hart Crane. Como nota Buckley (que acha que esta escolha vai irritar as feministas e os multiculturalistas, e também a comunidade gay por causa de algumas considerações que ele tece a propósito de Whitman), estão todos mortos, são todos brancos e, com uma única excepção, do sexo masculino. Interrogado pela Time, Bloom diz já não se incomodar com o criticismo e acusa os seus detractores de formarem uma espécie de “Escola do Ressentimento”.
Ele, aliás, é desde há muito tempo um persistente algoz do establishment universitário americano (“A vasta maioria dos universitários sempre foi uma mistura de impostores, atrasados mentais, preconceituosos e líderes de claque” – entrevista ao Público em 26/05/2001), bem como um demolidor do politicamente correcto (“Agora temos obras-primas de lésbicas esquimós …Vão dizer muito bem de poemas terríveis, apenas porque são escritos por lésbicas de Cabo Verde” – idem).
Em entrevista ao Expresso sensivelmente na mesma altura, antecipando a sua participação numa conferência em Portugal e o recebimento do Doutoramento Honoris Causa na Universidade de Coimbra, Harold Bloom considerou Pessoa “um dos maiores poetas do século XX”, ao nível de um T. S. Eliot, de um Lorca ou de um Valéry e admitiu não conhecer “outro romancista vivo tão talentoso” quanto José Saramago. Enumerando ainda os que considerava os “melhores romancistas americanos vivos” – Thomas Pynchon, Don Dellilo, Cormack McCarthy e Philip Roth – , acrescentou que “nenhum deles e[ra] tão extraordinariamente versátil como Saramago”.
Escritor falhado, com apenas um romance editado, que teve de pagar ao editor para evitar uma segunda edição e do qual, se pudesse, faria desaparecer todas as cópias existentes, disse à Time que o acto de ler é “elitista” e que o que o qualifica como crítico literário é “a sua paixão incrível, o seu amor feroz pelo verdadeiro esplendor do sublime”.