CENSURAS, CAVAQUISMO E EROTISMO
Março 08, 2016
J.J. Faria Santos
The Republic Between Slaunder and Envy
de Barahona Possollo (fonte: www.barahonapossollo.com)
A propósito do seu livro Alentejo Prometido, Henrique Raposo tem sido vítima de comentários insultuosos, ameaças anónimas e até de uma petição contra a venda do livro. Inclusivamente, circularia na Internet a imagem de um homem a queimar um exemplar da obra. Esta grotesca mistura de intolerância, bullying, Fahrenheit 451 e mentalidade de gang prepotente suscita-me indignação e desprezo, sobretudo (mas não só) devido à minha visceral aversão ao efeito manada. Mesmo que Francisco Louçã tenha razão quando afirma que “Raposo tem aquela forma simples, que só cabe aos grandes espíritos, de tratar as questões difíceis do alto da burra”.
Paulo Rangel respeita António Costa “como homem, como político, como primeiro-ministro, mas não tolera nem admite receber lições dele. “Não me intimida, nem me calará”, acrescenta. (Há aqui um perfume a Alegre via Contra-informação - A mim ninguém me cala! – aspergido num tom indignado e tonitruante). Tirando Paulo Portas, ninguém ultrapassa Rangel na interpretação do estadista em missão empanturrado de sentido de Estado. E tal como no caso de Portas, também a inteligência de Rangel não o livra de derrapagens embaraçosas para a propaganda e para o populismo.
Já Vasco Pulido Valente não tem por João Soares “qualquer respeito, nem como homem, nem como político”, e lamenta que outras figuras só agora tenham descoberto “a insignificância e a grosseria dessa lamentável personagem”. Também José Manuel Fernandes, igualmente a propósito da demissão do director do CCB, considera Soares inultrapassável na grosseria. E, não sei se a propósito, recorda as incursões do ministro no romance erótico.
Por falar em erotismo, Cavaco Silva escolheu Barahona Possollo para seu retratista. Acerca do pintor, diz Alexandra Carita no Expresso que “os seus temas são considerados iconográficos, místicos por vezes”, e que a sua pintura predominantemente figurativa recorre a “uma carga erótica assente na nudez sobretudo dos corpos masculinos, belos e muito jovens”. (E já agora, terá sido relevante para a escolha o facto de Cavaco Silva ter residência na Travessa do Possolo, abrilhantada com duas marquises com vidros espelhados?) Barahona Possollo tem um quadro intitulado The Republic Between Slaunder (sic) and Envy (será slander? Ou slaunder é uma mistura hábil do nome slander – calúnia - com o verbo launder – lavar dinheiro, por exemplo?), onde a República posa com a bandeira nacional portuguesa. Se a República em vez de uma moçoila no esplendor da juventude (o esplendor de Portugal?) fosse um ancião sábio, seria abusivo supor que Cavaco Silva se reveria nesta cena, lamentavelmente rodeado pela inveja e pela calúnia?