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NO VAGAR DA PENUMBRA

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AQUI DEL REY II - O REGRESSO DE LANA

Julho 02, 2014

J.J. Faria Santos

 

                                        "Lana Del Rey" por Richard Davies

                                          (Courtesy of www.bertc.com)

 

Pop noir, chamaram alguns a Born to Die. Outros, como Caryn Ganz (Rolling Stone), viram nele uma espécie de Peggy Lee meets Mazzy Star. Agora, no novo Ultraviolence, Ganz reconhece que as pinceladas de blues e guitarras psicadélicas não obviam a que permaneça reconhecível a “estética cinematográfica” da cantora. De tal forma que acha que Shades of Cool seria “perfeita para um filme de James Bond realizado por Quentin Tarantino”. Curiosamente, também Laura Snapes, no New Musical Express, coloca Lana Del Rey em primeiro lugar na linha de partida para a interpretação do tema do próximo filme da saga Bond. Snapes designa a sonoridade de Ultraviolence de “lânguido rock do deserto”, mas defende que aquilo que poderia ser uma “poderosa afirmação artística” é minado por vestígios de superficialidade e pela criação de figuras unidimensionais. Alexis Petridis, no The Guardian, embora achando que em Ultraviolence “é tudo tão bem feito que o facto de que todo o álbum se desenvolve no mesmo ritmo sonâmbulo quase não interessa”, defende que se mantém o problema de Lana se repetir nas suas canções (por exemplo, retratos de mulheres horríveis ou fracas e dignas de pena, homens abusadores e prisioneiros dos seus vícios).

Leio estes comentários e apetece-me especular se o que noutra intérprete seria visto como um sintoma de persistência temática, legitimada por uma obsessão artística (as palavras), ou uma opção pela homogeneidade que confere coerência ao produto final (a sonoridade), não serve aqui de arma de arremesso para a estafada questão da autenticidade, como se o artifício, qualquer artifício, fosse fatal para a credibilidade de uma performer.

Confesso que receei que a produção de Dan Auerbach invadisse de guitarras histéricas o tal universo pop noir, mas a minha apreensão revelou-se infundada. Mantém-se inalterada a atmosfera sonora que aliada às vocalizações inconfundíveis de Lana lhe permitem apropriar-se de qualquer tema e tornar imediatamente distinguível a sua marca registada. Escapando à armadilha da repetição da fórmula em relação ao disco anterior, as opções de produção neste novo trabalhoacrescentam negrume ao já de si carregado universo de Del Rey, onde a violência se transmite com uma vocalização de imperturbável suavidade. Shades of Cool, West Coast e Pretty When You Cry  são momentos relevantes num álbum que vale como um todo, e que termina com uma soberba versão de The Other Woman, gravado previamente, entre outras, por Nina Simone, Sarah Vaughan e pela mezzo-soprano Anne Sofie von Otter em parceria com Elvis Costello. A “outra” da canção é uma mulher de unhas impecáveis, cabelo irrepreensível, envolta em perfume francês e habitando uma casa com flores em todos os cómodos. E, no entanto, é uma rainha solitária, condenada a adormecer na companhia das lágrimas por causa de um amor furtivo.

 

 

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