AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMO
Setembro 19, 2017
J.J. Faria Santos
Irmãos,
Outros Presidentes mais vocacionados para a gestão dos silêncios prefeririam um vocativo mais formal (portugueses, por exemplo), mas a minha predilecção pelo esbanjar dos afectos e a minha formação católica reclamam uma expressão mais fraterna.
É com manifesta perplexidade que vejo o meu mandato ser contestado, na forma e no conteúdo. Quem será a oposição ao Presidente que ama todos os portugueses? Não há oposição, digo eu, outros dizem que está moribunda e já não ressuscita. Tem de ser alguém muito distraído. (E na leveza deste qualificativo estou a usar uma quantidade expressiva de caridade cristã…) Com quotas de popularidade de oitenta e tal por cento, tem de ser alguém muito distraído.
Dizem que esbanjo palavras em epístolas e sermões, acusam-me do terrível pecado da concórdia com o irmão Costa, como se eu não fosse o Presidente de todos os credos e os meus passos (abrenúncio!) se extraviassem do caminho recto e caíssem na tentação de seguir os desígnios do Diabo e dos ímpios. Mas no rally presidencial, quando eu viro à direita em Portugal, a direita está distraída a bater na esquerda, não nota. Em vez de aproveitar, não nota. A sorte dela é que a distracção não é um pecado mortal.
Muitos proclamam que promovo a idolatria, que os santinhos foram substituídos pelas profanas selfies. Em verdade vos digo, quem assim se pronuncia parece desconhecer os misteriosos, e por vezes ínvios, desígnios da Presidência. Estar próximo é também estar ao alcance de um toque na galeria de um smartphone.
Irmãos, ouçam este Marcelo Nuno que vos fala. Sem cair no pecado da soberba ou do orgulho, permitam-me que no sublime propósito de unir os portugueses vos proponha a celebração da fraternidade e do amor. Amai-vos, pois, uns aos outros como eu vos amo. E, sobretudo, nunca olvidem que o essencial, é que o nosso génio – o que nos distingue dos demais – é a indomável inquietação criadora que preside à nossa vocação ecuménica. Abraçando o mundo todo.
Palavra da salvação da pátria.
(todos) Glória a vós, Senhor Presidente!
(Apesar de este ser um exercício de ficção, as frases apresentadas a cheio foram efectivamente escritas/proferidas pelo Presidente da República.)