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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

A PREVALÊNCIA DOS TESTÍCULOS NO CICLO NOTICIOSO

Julho 04, 2017

J.J. Faria Santos

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O título é para ser interpretado literalmente. Esta não é uma dissertação acerca da coragem e da integridade jornalística num qualquer contexto de franca hostilidade ou mesmo de cerceamento despudorado da liberdade de expressão. O que aqui se nota é mesmo a prevalência dos testículos no ciclo noticioso do Correio da Manhã (CM), do qual me proponho avançar com uma pequena amostra.

 

Em Maio do ano passado, o CM noticiava que uma senhora invisual, Angela Green, estivera detida durante 18 horas acusada de ter apertado os testículos a um polícia, chamado na sequência de distúrbios num bar no Reino Unido, deixando-os “com uma leve inflamação”. Afastemos do espírito a noção de que com a falta de um sentido os outros ficam mais aguçados (por exemplo, o tacto), e consideremos que a senhora negou as acusações e considerou o sucedido “traumatizante”.

 

No início de Abril do corrente ano, o destemido jornal noticiava que um formidável mestre de kung fu, de seu nome YE Wei (Yeah! Vai! Força!) bateu o seu próprio recorde de deslocação de viaturas com os testículos, ao puxar sete automóveis ligados por um corda, totalizando cerca de doze toneladas. Parece que o senhor alega que este feito “ajuda a aumentar a fertilidade”.

 

Lá mais para o final do mesmo mês, o jornalista Pedro Zagacho Gonçalves narrava a proeza original da vlogger Johanna Hines, que decidiu utilizar os testículos do namorado como “esponja de maquilhagem” para espalhar base na testa. O vídeo terá sido visto mais de 27 000 vezes e Johanna diz que muitas jovens se sentiram “inspiradas” com a atitude “divertida e confiante” dela. Enfim, a inspiração é muitas vezes a base de uma grande carreira.

 

A última semana de Junho de 2017 fica marcada por duas notícias trágicas e mesmo horripilantes. No dia 27, o Correio da Manhã noticiava que duas pessoas tinham sido condenados no Reino Unido a prisão perpétua por terem “cortado, cozinhado e obrigado outra a comer o seu próprio testículo”. Antes de ser selvaticamente torturada e morta, a vítima “foi forçada a manter relações sexuais com um cão”. Este último facto, porém, não fora o contexto de violência e de condicionamento da vontade, poderia até receber o beneplácito do Dr. Quintino Aires em nome da confraternização das espécies do reino animal.

 

Por fim, dois dias depois, o CM narrava o pungente caso do testículo que “explodiu”. Na sequência de uma discussão acerca de uma luta de galos (cockfight em inglês, isto está tudo ligado…), a senhora Anima Kharia, residente numa aldeia no norte da Índia, esmagou com as mãos os testículos do sogro, levando-o a esvair-se em sangue até à morte. O Correio da Manhã, citando o Hindustan Times, diz que na autópsia consta como uma das causas da morte o facto de “um dos testículos explodir”. O jornal indiano, na sua versão online, é bastante mais sóbrio na descrição dos eventos, quer no título quer no corpo da notícia. No título avança que a morte foi causada pelo aperto/esmagamento das “partes privadas”, acrescentando depois como causa provável da morte a “hemorragia interna causada pela ruptura do órgão”. Ruptura, para o CM, não é suficientemente impressivo. Romper é escasso. A ideia da explosão evoca detonação e /ou a “fragmentação estrondosa de um corpo”, e estará mais próxima do seu conceito de informação.

 

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