A MAGNA QUESTÃO DAS SANITAS COM DESCARGAS FROUXAS
Dezembro 17, 2019
J.J. Faria Santos
Em plena reunião com um grupo de pequenos e médios empresários o presidente americano teve uma epifania. É o que sucede quando se tem estadistas de alto gabarito em funções executivas, figuras que se libertam de grandiosas proclamações ocas para se dirigirem ao âmago dos problemas reais das populações. Perante a admiração incontida dos seus interlocutores, Donald Trump tratou de assegurar que a agência de protecção ambiental americana estaria a analisar afincadamente o problema do baixo fluxo das descargas das sanitas, que necessitariam de ser accionadas “dez vezes, quinze vezes, em vez de uma”.
Deixando de lado o pequeno pormenor de, segundo informações veiculadas pela CBS News, os modelos menos eficientes de sanitas requererem que se accione o autoclismo quatro ou cinco vezes no máximo, não deixa de ser alarmante o cenário com que os americanos se confrontam e que Trump denunciou com crueza e coragem: “Vocês abrem a torneira e não têm nenhuma água. Eles tomam um banho e a água vem às pinguinhas.” A dimensão do problema implica que nem sequer se possa lavar as mãos adequadamente, “tal é a escassez da água que vem da torneira”. E prosseguiu, notando que com excepção das áreas desérticas, “existem muitos estados que têm muita água, cai do céu, chama-se chuva”. Como lembrou a CNN, no passado o intrépido Trump já censurou veementemente os moinhos de vento e a energia eólica, por criarem autênticos “cemitérios de aves” e o seu ruído “provocar cancro”.
De acordo com informações veiculadas pelo The Guardian, a lei que determinou o uso de sanitas que utilizam descargas de consumo reduzido teve origem na presidência de George H. W. Bush, tendo entrado em vigor em 1994 para edifícios residenciais e em 1997 para estabelecimentos comerciais. Apesar do optimismo presidencial, um relatório governamental de 2014, citado pela Bloomberg, concluiu que 40 em 50 empresas estatais de gestão da água esperam ser confrontadas com escassez de água na próxima década. O certo é que, para além das fake news, da imprensa “inimiga do povo” e do receio dos burocratas, o visionário Trump tem de combater as novas tendências, como o movimento que defende o fim das descargas substituídas por “sistemas de compostagem”.
É comum os grandes desígnios e as grandes transformações terem origem em banais acontecimentos do quotidiano. Por isso, não é de descartar que esta causa trumpiana, decerto fruto de uma observação repetida e maturada, possa ter tido um catalisador. Algures numa das suas idas nocturnas à casa de banho, entre um tweet pejado de maiúsculas e uma desconfortável obstipação, Trump terá constatado a necessidade imperiosa de um fluxo mais vigoroso para despachar o dejecto presidencial. No fundo, tornar as descargas novamente grandiosas, ou, como diria o Lauro Dérmio: Make Sanitas Great Again.
Imagem: Twitter de Donald Trump