A FEIRA DA VAIDADE
Janeiro 12, 2025
J.J. Faria Santos
Se Los Angeles se vê a braços com os ventos de Santa Ana, já a Figueira da Foz é palco para o sopro de Santana. Com laivos de despeito, mas sobretudo de incompreensão, em declarações ao Público, Santana Lopes lamenta que o PSD prefira apoiar nas presidenciais Marques Mendes, alguém com um currículo que não tem “comparação” com o seu e pode fazer um cargo “benzinho”, mas que não “desperta o mínimo de entusiasmo nas pessoas”. É verdade que as sondagens não têm sido famosas, que a recepção no congresso do PSD não foi entusiasmante e que o presidente não-executivo do Goldman Sachs International anda por aí. Durão Barroso, aliás, defendeu em artigo publicado na revista da Chatham House (editado agora pelo Expresso), que os “líderes centristas, seja à esquerda ou à direita”, têm de “recalibrar” o seu discurso no que se refere às “questões de segurança pública, aumento da criminalidade e imigração ilegal”, de forma a responder a “preocupações públicas legítimas” de eleitores que, doutra maneira, poderão ser atraídos por “forças mais extremadas”. Um discurso sibilino que se adequa à estratégia “não é não, porém, as percepções” do primeiro-ministro português. E se Montenegro achar que Marques Mendes é “poucochinho” e que um Barroso com um currículo recheado e um discurso que o ar do tempo pede tem mais hipóteses de vitória? É certo que ele já se pôs fora da corrida, mas se houver um apelo patriótico, não será suficiente para o demover? É que se há algo que mova Durão Barroso é precisamente o patriotismo.
À esquerda António José Seguro ocupou terreno, com “oito metas e objectivos” para colocar Portugal “na vanguarda dos países mais desenvolvidos”, com um apelo ao diálogo e à moderação, lamentando a escassez de uma “perspectiva prospectiva”. Assume-se como “social-democrata”, mas acha “que a social-democracia está morta nas suas propostas”, e avançou com uma “sugestão” de que o Orçamento do Estado deixasse de ser votado, o que suscitou reacções violentas por parte de correligionários. Seguro tem um problema: se transmite, é certo, uma imagem de seriedade e ponderação, também não é menos verdade que projecta um certo ar de pusilanimidade e, à semelhança de Marques Mendes, não entusiasma. Se é para apostar na moderação, no talento para estabelecer pontes e na capacidade “prospectiva”, António Vitorino tem melhores qualidades e consistência doutrinária. E Mário Centeno terá uma melhor ideia do país que poderemos vir a ser, mais assente nas circunstâncias do presente e menos em proclamações ambiciosas sem ponto de contacto com a realidade.
Quanto ao campeão das sondagens, foi de férias agradecendo a “confiança dos portugueses”. Gouveia e Melo parece despertar nestes convicções ancestrais associadas à instituição militar enquanto formadora cívica de homens e, ao mesmo tempo, de garantia da ordem e do respeito. É sobretudo disto que se compõe o carisma do novo almirante sem medo, reluzente na sua imagem que aglutina o compagnon de route de D. João II, o Capitão Iglo e o Dirty Harry. É muito pouco, mas pode bastar. Os portugueses adoram personalidades fortes e austeras. Suportaram durante quase meio século um ditador provinciano e beato de voz aflautada. Poderão, seguramente, eleger democraticamente um almirante de voz grossa e ego robusto. Se Donald Trump depois de invadir a Gronelândia quiser anexar os Açores, quem melhor do que Gouveia e Melo para lhe fazer frente?
Imagem: Gouveia e Melo fotografado em Setembro de 2015