HOMEM RICO, HOMEM POBRE
Agosto 17, 2011
J.J. Faria Santos
Warren E. Buffett fez publicar no New York Times um muito citado artigo onde denuncia o tratamento de favor de que têm beneficiado os "mega-ricos". Os números são eloquentes: em 1992, o rendimento tributável dos quatrocentos mais ricos nos EUA ascendia a 16,9 biliões de dólares e pagavam impostos federais que representavam 29,2% desse valor; em 2008, os valores comparáveis eram, respectivamnte, 90,9 biliões e 21,5%. Buffett cita o seu próprio caso como exemplo de iniquidade fiscal: no ano transacto pagou uma taxa de 17,4% sobre o seu rendimento tributável, valor inferior ao de cerca de vinte funcionários do seu escritório, que pagaram em média 36%. O artigo termina advogando a elevação da carga fiscal sobre os mais ricos, depois de o ter iniciado criticando os líderes políticos por falarem de partilha de sacrifícios e pouparem os afluentes. De passagem, contesta dois poderosos axiomas do pensamento económico dominante: "As pessoas investem para ganhar dinheiro, e os impostos potenciais nunca as assustaram. E para aqueles que argumentam que taxas mais elevadas prejudicam a criação de emprego, faço notar que 40 milhões de empregos líquidos foram acrescentados entre 1980 e 2000. Sabemos o que se passou desde essa altura: taxas de imposto mais baixas e mais baixa criação de emprego." Assim se torpedeia o consenso liberal. Algo que seria impensável em Portugal, onde a nata empresarial segue o catecismo ortodoxo da alta finança. As suas iniciativas cívicas restringem-se às ocasionais preocupações sociais, de que é exemplo o Plano de Emergência Social criado pela Jerónimo Martins para os seus trabalhadores, visando aliviar o estrangulamento provocado pelas dívidas e as carências alimentares. Este plano mereceu a interpelação de Daniel Oliveira. No Expresso de sábado passado, podia ler-se: "Na sua acção promocional, o piedoso Alexandre Soares dos Santos não se perguntou porque há tantos trabalhadores das suas empresas, com emprego e salário, a viver na penúria. Porque o salário médio é de 540 euros? Claro que não! Isso, com sabedoria, chega e sobra."