FASHIONISTA ACIDENTAL
Agosto 06, 2011
J.J. Faria Santos
Quando percorro sucessivamente canais de televisão, como forma de repouso mental, acabo sempre por me deter na Fashion TV. Há algo de tranquilizante nos cenários mais ou menos estereotipados, nas poses repetitivas, na retumbante inexpressividade do rosto dos corpos que desfilam. Já para não falar da música, que oscila entre a dance music para as massas, a pop do dia e o variado easy listening. Uma vez por outra, uma manequim quebra o statu quo, afivelando um sorriso e exibindo o seu corpo (através de gestos, inflexões, requebros) tanto quanto a peça que enverga. Na moda masculina, o nível de rigidez é ainda mais elevado, com os modelos a desfilarem com uma atitude que eu definiria entre o robótico e o desengonçado. Aparentemente, na nova geração não existem sucessoras à altura da fabulosa Naomi Campbell (inimitável no pisar da passerelle, carismática e intratável), da esfíngica Carla Bruni e da camaleónica Kate Moss (com uma amplitude de registos notável, capaz de interpretar com igual eficácia a descontração do street wear e a sofisticação da alta-costura). A palavra glamour, que associamos frequentemente ao mundo da moda, é uma corruptela da palavra grammar. Evidentemente que a moda tem a sua gramática, um conjunto de regras que regem o seu discurso, e, uma vez por outra, surge um ser visionário que reinventa a linguagem e a resgata da frivolidade exclusivista. E é sempre alguém que subscreveria, sem hesitação, as palavras de Coco Chanel: "A moda não é só uma questão de roupa. A moda anda no ar, nasce com o vento. Podemos intuí-la. Está no céu e na estrada."