QUATRO ESTRELAS DA TARDE
Julho 16, 2011
J.J. Faria Santos
Em 1976, Carlos do Carmo gravou "Estrela da Tarde", o original de Ary dos Santos e Fernando Tordo, acompanhado por uma orquestra dirigida por Thilo Krasmann. A peça arranca com violinos lancinantes em diálogo com o piano, para seguir embalada pelo fraseado e pela dicção superlativas do cantor. Em 2007, Paula Oliveira editou uma versão jazzy , com Bernardo Moreira no contrabaixo e Leo Tardin ao piano, caracterizada por uma interpretação contida e suave, em que a voz da cantora explorou a languidez das palavras. Dois anos depois, Mafalda Arnauth retomou a tonalidade jazzística, numa recriação algo dramática, entre a súplica e o arrebatamento, como quem arrisca o voo sem ponderar o elevado risco de queda. Já em 2011, os Amor Electro pegaram na matriz do original e fizeram uma releitura electrónica, pondo em contraponto a voz cristalina de Marisa Liz e o poder declamatório de Adolfo Luxúria Canibal, que com a sua voz cheia e desmesurada conferiu espessura e intensidade às palavras. Ary dissera a Tordo: "(...) apetecia-me uma canção para meter muitas palavras, para dizer muitas coisas, muitas coisas...". E disse. Escreveu, num tempo em que a poesia se cantava e não de deixava acantonar nas coutadas de uns happy few, um clássico absoluto da MPP.