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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

A ANGÚSTIA DO LEITOR COMUM PERANTE O CÂNONE

Maio 29, 2011

J.J. Faria Santos

Empreender a leitura de um clássico é, simultaneamente, um acto seguro, ousado e intimidante. É seguro porque a caução desse estatuto nos garante qualidade; é ousado porque a qualidade transporta consigo a exigência;  e é intimidante porque a exigência implica uma resposta à altura, em termos de disponibilidade, persistência e concentração. Claro que existe um prémio: a plena fruição da genialidade. Recordo que li grande parte de um dos volumes de "Em busca do Tempo Perdido", na tradução de Pedro Tamen, em tardes de praia semidesértica de um Setembro ameno,  numa delas com a guarda de honra de mais de uma centena de gaivotas à beira-mar, e em todas elas com um irreprimível prazer. O mesmo deleite com que devorei "Memórias de Adriano", "Hamlet", "Madame Bovary", "A Idade da Inocência" ou "O Retrato de Dorian Gray". Já o mesmo não posso dizer de "Berlim Alexanderplatz", que me deixou indiferente, e "Ulisses", que abandonei ao fim de cem páginas, perdendo a magnificência do "fluxo de inconsciência" e o celebrado monólogo de Molly Bloom. De James Joyce, apreciei "Retrato do Artista Enquanto Jovem" e, particularmente, "Gente de Dublin". Para me redimir desta falha, de incapacidade de comunhão com o brilhantismo destes clássicos, gosto de pensar que a leitura tem uma relação directa com o tempo e as vivências do leitor, pelo que, um dia destes, regressarei às suas páginas, com redobrado fôlego e empenho, convicto de que o leitor da segunda década do século XXI já não é o mesmo que en Junho de 1997 escolheu capitular, procurando assim afastar o fantasma das insuficiências que alimentam a angústia.

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