O IRREAL POLÍTICO IDEAL
Maio 28, 2011
J.J. Faria Santos
Deve ser dialogante, mas não tanto que pareça invertebrado ou pressionável e incapaz de tomar uma decisão; deve ser expedito no diagnóstico e consequente na terapia, agindo com firmeza, insensível a grupos de pressão e interesses instalados, evitando, porém, com habilidade e bom senso, resvalar para a arrogância e a prepotência. Deve estudar com minúcia as pastas da governação, sem que isso o impeça de deliberar no tempo justo, e abster-se de atitudes voluntaristas e pouco fundamentadas, que poderão ter efeitos contraproducentes na aplicação de políticas inadiáveis. Deve comportar-se como um estadista e não como um líder de facção; governar com os olhos no longo prazo, abstendo-se de comprometer (ou sequestrar, como agora se diz...) o futuro em troca de dividendos politico-partidários de curto prazo. Se conseguir ganhar uma reputação de indivíduo sério e impoluto, daí para a frente ser-lhe-ão permitidos todos os devaneios populistas e demagógicos. Nada disto, contudo, lhe garantirá a admiração perene das elites, a menos que consiga apontar um desígnio que erga Portugal do divã do psicanalista, onde a pátria prostrada se flagela sem contemplações, clamando, e ao mesmo tempo descrendo, por um primus inter pares que nos resgate da miséria cíclica. Este miraculoso desígnio (por exemplo, o mar...) deveria conduzir-nos ao nirvana da prosperidade. Last but not least, se ainda por cima for fotogénico e falar com fluidez, clareza e objectividade reunirá todas as condições para triunfar. Claro que o eleitor comum não perde tempo a procurar nos candidatos os traços deste perfil irreal, deixando tal tarefa para os líderes de opinião, que assim empunham todos os lugares-comuns da indignação perante a mediocridade. Depois de se ter comprazido em sovar os políticos (eles são todos iguais...), o cidadão eleitor, no dia 5 de Junho, decidirá livremente, escolhendo homens comuns para governar homens comuns, na esperança que eles se engrandeçam na tarefa que desempenharem, mas cientes de que a infalibilidade é prerrogativa dos lunáticos.