VOZES DA AMÉRICA CHEGAM À LUSITÂNIA ?
Maio 08, 2011
J.J. Faria Santos
1% dos americanos arrecada quase um quarto do rendimento anual da nação e controla 40% da riqueza; o desemprego entre os jovens ronda os 20%; 1 em cada 7 americanos depende de senhas alimentares e outro tanto sofre de uma qualquer forma de "insegurança alimentar". Estes são dados apresentados pelo nobelizado economista Joseph E. Stiglitz num notável artigo na Vanity Fair de Maio. No mesmo ensaio, Stiglitz defende que a crescente desigualdade na repartição da riqueza está intimamente ligada à diminuição da igualdade de oportunidades, que as regras da globalização foram concebidas para beneficiar os ricos, e que é vital o investimento público em "infraestruturas, educação e tecnologia". Para os que sempre acharam que o incipiente Estado social americano e a concomitante desprotecção dos mais desfavorecidos eram compensados pela mobilidade social, o economista reserva a estocada final: esta é inferior à que se verifica em muitos países da Europa ("...the chances of a poor citizen, or even a middle-class citizen, making it to the top in America, are smaller than in many countries in Europe").
Um outro intelectual americano, Francis Fukuyama, conservador, que esteve recentemente entre nós, num artigo para a edição Issues 2010 da Newsweek, intitulado "History is still over", fez um diagnóstico demolidor para o sector financeiro, comparado a um casino ("...poorly regulated financial sector that had turned Wall Street into a giant casino"). Castigando o insustentável endividamento induzido pelo consumo, Fukuyama nem pestanejou em culpar a era Reagan, quer pela desregulação financeira, quer também pelos défices orçamentais impulsionados pela baixa de impostos.
Quando os que supostamente defendem o Estado social se congratulam com a alegada brandura do memorando de entendimento, que o triunvirato que nos vai providenciar assistência financeira alinhavou, e, por outro lado, nas epístolas do prof. Catroga ao governo e à troika, se dão hossanas à deriva liberal, talvez seja ingénuo sugerir ponderação e abertura de espírito. De qualquer forma, sem cristalizações e sem truísmos na bagagem, é indispensável repelir a tecnocracia dos modelos uniformes recolocar a ideologia no core business da actividade política.