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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

GILDA

Agosto 08, 2013

J.J. Faria Santos

                                             Rita Hayworth como Gilda

                                          (Courtesy of www.bertc.com)

                  

É um filme sobre pessoas que “nasceram no dia em que se conheceram”, isto é, que pretendem fazer uma espécie de reboot do sistema das suas vidas. Uma delas chega ao extremo de simular a própria morte, renascendo para a vingança, um pretexto menos nobre mas não menos legítimo para exercitar a faculdade da recriação.

Num casino em Buenos Aires, cujo dono é o sinistro Ballin Mundson, circulam irascíveis agentes alemães, polícias sibilinos, latin lovers, mulheres belas e fura-vidas à procura de oportunidades. Johnny Farrell é um desses cultores de um estilo de vida que junta o improviso ao culto da sorte. O prémio agridoce surge sob a forma de um convite para gerir o casino, para logo descobrir que a mulher de Mundson é a sua própria ex-mulher, Gilda.

A intriga secundária gira à volta do tungsténio, elemento químico também conhecido por volfrâmio, palavra com origem num termo alemão que significa devorador. O círculo fecha-se e regressamos a Gilda, pois o que é uma mulher fatal senão uma “devoradora de homens”?

O seu strip-tease minimalista enquanto interpreta Put the Blame on Mame  é o exemplo acabado da forma como, no território do erotismo,  o subtil poder da sugestão pode triunfar sobre a crueza da evidência.  O drama pessoal da actriz Rita Hayworth é que Gilda se tornou na pior das suas rivais – o protótipo da beleza feminina, a bandeira da insustentável perfeição quotidiana. Daí o célebre desabafo de Rita: “Os homens vão para a cama com Gilda, mas acordam comigo”. 

Nascida em Brooklyn, filha de um bailarino espanhol e de uma bailarina irlandesa, Rita Hayworth cumpriu o percurso habitual das aspirantes a actrizes na Hollywood da era clássica, incluindo a fase de upgrade  físico que implicou uma cura de emagrecimento e um tratamento electrolítico que fez desaparecer vários centímetros de cabelo da testa. No amor, terá seguido o conselho do croupier  do casino: “Place your bets, faites vos jeux”. Perdeu. É o que se depreende da frase “cinco casamentos, cinco erros”. Ironicamente, no final do filme, um improvável final feliz, percebe-se que por trás dos artifícios da sedutora impenitente está, afinal, o comum e tradicional desejo de felicidade conjugal.

Mas a derradeira ironia é que Hayworth acabou os seus dias vítima da doença de Alzheimer, alternando entre a lucidez e o alheamento, confundindo a vida real com as personagens que tinha interpretado, impotente perante o esvaimento da memória.

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