A PIADA INFINITA
Julho 11, 2013
J.J. Faria Santos
"Anjos do Inferno" de Marta Cordeiro
Começo com uma advertência: contrariamente ao que o título possa sugerir este post não é a continuação do anterior. Deixemos a irrealidade e a mentira do quotidiano político no cemitério da descredibilização e mergulhemos na verdade da ficção em carne viva.
Monumental na forma (quase mil e duzentas páginas) e no fôlego narrativo, A Piada Infinita, cuja acção se divide entre uma Academia de Ténis e um centro de reabilitação de alcoólicos e toxicodependentes, disseca a sociedade de consumo com a ferocidade dos impiedosos, e a instituição familiar com a implacabilidade que os afectos não só não limitam como ainda exponenciam. Irónico e pungente, realista até ao vómito, lírico sem ser sentimentalista, minucioso quase até à exaustão, erudito e viciante, A Piada Infinita foi publicado em 1996, logo sendo aclamado como um dos grandes romances do século passado. David Foster Wallace, o seu autor, no seguimento de duas décadas de luta contra a depressão (e de dependência de anti-depressivos) , enforcou-se na sua residência em 12 de Setembro de 2008, no que terá sido a sua quarta tentativa de suicídio.
O que se segue (sob a forma de extractos do livro supracitado de teor quase epigramático) é uma amostra necessariamente limitada e incapaz de fazer justiça ao virtuosismo de Wallace, pretendendo apenas exemplificar o alcance da sua ambição.
SOBRE O TALENTO – “O talento é a sua própria expectativa: ou estás à sua altura ou retrocede para sempre dizendo adeus a acenar com um lenço.” (Pág. 185)
SOBRE O CASAMENTO – “Como a maioria dos casamentos, o deles era o produto evolucionado da concordância e do compromisso.” (Pág. 202)
SOBRE O SUICÍDIO – “Entre os mitos perniciosos há um em que as pessoas se comportam sempre de maneira otimista e generosa e aberta antes de desaparecerem, A verdade é que as horas que antecedem um suicídio são em geral um intervalo de enorme egoísmo e egolatria.” (Pág. 242)
SOBRE A CORAGEM – “A coragem é o medo que fez as suas orações.” (Pág. 297)
SOBRE O DESTINO – “O destino não bate à porta, o destino aparece sempre de supetão vindo de uma viela com uma gabardina vestida e faz um pssst a que normalmente se não presta atenção porque se está com demasiada pressa para chegar ou vir de algum lugar onde se tentou congeminar alguma coisa importante.” (Pág. 320)
SOBRE A VERDADE – “A verdade é aquilo que te torna livre. Mas só depois de ter acabado contigo.” (Pág. 426)
SOBRE A VERGONHA – “Fiquei a conhecer a vergonha, e a conhecê-la como a ajudante de campo da grandiosidade.” (Pág. 907)
Este livro de David Foster Wallace foi editado em Portugal no final de 2012 pela Quetzal, e tem tradução de Salvato Telles de Menezes e Vasco Teles de Menezes.