SILLYCONE
Abril 18, 2013
J.J. Faria Santos
IMAGEM: "Mulher" de Edvard Munch
(Courtesy of www.bertc.com)
A vaga parece ter passado. Tempo houve, aqui na Lusitânia, em que não passava uma semana em que não aparecesse uma “famosa”, das teenagers às balzaquianas, desfilando toda garbosa nas revistas do social, exibindo o seu novo par de…implantes mamários (digamos assim para manter a coisa no ascetismo da descrição clínica). Sorridentes e dengosas, trocando a indignação associada ao papel de mulher-objecto pelo elogio da bondade do reforço da auto-estima, sublinhavam o seu quase renascimento enquanto mulheres. E eu, volta e meia, no conforto do sofá, erguia os olhos para a televisão e lá deparava com uma actriz (previamente esguia e bem proporcionada) com uma alteração significativa na volumetria do seu corpo. Digamos que aparecia mais (e perdoem-me a vulgaridade da expressão) “pneumática”.
Claro que, em breve, artigos de revista clarificaram que a coisa não se circunscrevia ao sexo feminino. Eram, afirmavam, cada vez mais os homens que recorriam a implantes de silicone, em diversas partes do corpo, entre elas os glúteos (deve ser sinal de desinibição, alteração de paradigma estético ou modernidade – ou pós-modernidade, ou pós-pós-modernidade – que o embelezamento do rabo masculino não levante sérias objecções). As traves-mestras da condição masculina parecem ter-se alterado algures entre o dandy, o metrossexual e o überssexual. De igual modo, o homem-objecto é hoje um zelador atento da sua integridade estética, o que levou recentemente David Beckham, confrontado com rumores de que não era seu o rabo que aparecia num anúncio, a garantir a genuinidade não só dos seus glúteos como da sua genitália… O corpo de um homem é sagrado ou, como alguém escreveu a propósito de Justin Timberlake, “o seu corpo é o seu templo” (“Hallelujah! Praise the Lord!”, quase posso eu ouvir um reverendo negro proclamar perante a concordância do coro gospel e dos fiéis no templo).
Claro que cuidar do corpo não tem nada de censurável, desde que não se deslize da sensatez para a obsessão. Perante o fundamentalismo de certas tomadas de posição, eu, um moderado cultor de práticas saudáveis (alimentação regrada, caminhadas à beira-mar) com abdominais indefinidos e uma aversão moderada ao ginásio, fico sempre com ganas de transgredir. Nestas alturas, é elevada a probabilidade de trocar o salmão grelhado pelo chop suey e a manga laminada pela mousse de chocolate. E não me responsabilizo pelo meu comportamento se me puserem à frente uma daquelas embalagens gigantes de Toblerone… Porque afinal como toda a gente sabe, ou desconfia, a maior vantagem de seguir determinado conjunto de regras é o prazer que advém de as quebrar.