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NO VAGAR DA PENUMBRA

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TABU - PARAÍSO REVISITADO

Janeiro 06, 2013

J.J. Faria Santos

O que faz o grande cinema? Mais do que uma interpretação pungente ou arrebatadora, um argumento engenhoso ou uma realização inventiva nos travellings e nos raccords , o que torna uma fita notável é a criação de uma atmosfera, de um impalpável encantamento.

Miguel Gomes construiu uma sumptuosa narrativa visual de uma história de amor em África entre uma mulher chamada Aurora (o início de algo, o esplendor de juventude) e um homem chamado Ventura (destino ou felicidade, mas também risco ou perigo), a partir das reminiscências deste, na sequência das cerimónias fúnebres daquela. Na primeira parte do filme, acompanhamos os últimos tempos de Aurora, enredada entre a solidão e a ameaça da loucura, vigiada pela criada africana e amparada por uma vizinha chamada Pilar (coluna que suporta uma edificação), ela própria em risco de desmoronamento, procurando disfarçar com o empenho em causas sociais o tumulto causado pela insatisfação pessoal, cronicamente indecisa em como reagir às atenções do amigo pintor. Como se quisesse exemplificar que a bondade, a gratidão e a disponibilidade não chegam para despertar a atracção. Na segunda parte, Tabu é a crónica de um desejo consumado, no vasto espaço africano, por entre festas retumbantes concluídas com salvas de tiros, caçadas com disparos infalíveis e perseguições a um crocodilo esquivo, até culminar numa trágica e insensata escapadela ( a insensatez é a forma preferida do amor se manifestar). Tudo em voz off  e emoções on. O paraíso pode estar perdido, mas jamais será irrecuperável enquanto a memória o preservar.  

 

Tabu  foi considerado pelas revistas Sight & Sound  e Cahiers du Cinema, respectivamente, o segundo e o oitavo melhor filme de 2012, tendo recebido, também, dois prémios no festival de cinema de Berlim. Em menos de um mês de exibição em França, foi visto por mais de cem mil espectadores, quase o quíntuplo do que sucedeu no nosso país. Todos puderam ver em Ana Moreira a fusão da pura alegria com o frenesim erótico, e em Carloto Cotta aquilo que o crítico da Variety, Jay Weissberg, chamou de “elegância cativante de um jovem Errol Flynn”, porém, são Teresa Madruga e Laura Soveral quem arranca duas extraordinárias interpretações que jogam com uma tríade de emoções: melancolia, voluntarismo e desamparo.

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