PASSOS EM VOLTA : O CANDIDATO DA VERDADE
Abril 17, 2011
J.J. Faria Santos
Parece que os amigos lhe chamam o "Obama de Massamá". Será pelo carisma? Pela eloquência? Pela eficácia eleitoral? Duvido do primeiro, discordo da segunda e a terceira está por provar. E, no entanto, tem a seu favor o clima de fim de ciclo e um governo desgastado, espoliado do seu último trunfo (repelir o FMI). Infelizmente para ele, enredou-se em demasiada tergiversação e no calculismo. Prometeu a clarificação programática, ainda que anunciada aos solavancos e protagonizada por figuras de think tanks desprovidas de sensibilidade democrática para perceber as subtilezas da governança das nações, para logo recuar para o conforto da figura da recolha de contributos. Cada passo que o líder do PSD dá, parece exemplificar uma longa marcha para o abismo. O mais prejudicial deles todos, mesmo que não lhe custe a vitória no escrutínio de Junho, foi o episódio do telefonema de Sócrates na véspera da apresentação do PEC4, escolhendo omitir o subsequente encontro em São Bento. O objectivo de explorar o filão do alegado conflito do primeiro-ministro com a verdade, só resiste se o acusador se escudar numa posição de elevado grau de pureza das posições que transmite. O terceiro candidato da verdade do PSD (depois de Manuela Ferreira Leite e Aníbal Cavaco Silva), ao falsear os dados, torpedeou a sua própria credibilidade. E tudo isto enquanto a esquerda das margens se contenta em alimentar os protestos, o PP aguarda com mal disfarçada ansiedade o momento de regresso aos corredores do poder, e o PS se contenta em elevar a resistência ao estatuto de programa político. Resta a sociedade civil, claro, onde os donos do poder desesperados (senadores, sábios, banqueiros, empresários), muitos deles comprometidos com o rumo do país que somos, mas agora virginalmente incansáveis na prescrição das míticas reformas estruturais, apelam à intervenção mais activa de Cavaco Silva, alguns mesmo não escondendo o desagrado com uma suposta inacção. O que é injusto. O chefe de Estado, mostrando uma "imaginação" que escasseia nos detentores de cargos europeus, exerce com proficiência e vanguardismo a magistratura do Facebook.