QUEM MATOU ROSIE LARSEN?
Dezembro 06, 2012
J.J. Faria Santos
(Courtesy of www.bertc.com)
O que tornará The Killing uma série tão viciante? Será a música, melancólica e inquietante? Será a omnipresente chuva de Seattle, que ao invés de providenciar uma purificação do corpo e da alma ameaça encharcar de dúvidas e angústias aqueles que enfrentam uma forma indefinível do mal? Será a invocação, deliberada ou fortuita, de Twin Peaks, com a sua rede de relações interpessoais em que a familiaridade não exclui o perigo, embora sem o bizarro universo lynchiano?
Rosie Larsen habitava nesse autêntico território de mutantes que é a adolescência, onde a perda da inocência e o impulso exploratório se conjugam para edificar uma muralha de autonomia que não tolera o escrutínio. E isso torna o luto dos pais mais difícil, imersos em recriminações, tentando identificar falhas, catalogar insuficiências. O apaziguamento só poderá advir de uma investigação policial bem sucedida que identifique o assassino. Por isso, também, cada pista falsa ou qualquer perceptível hesitação na acção punitiva é um remexer na ferida de consequências imprevisíveis. Quando a investigação policial sobre o homicídio se entrelaça com uma campanha eleitoral, em que os spin doctors manuseiam material produto de uma pesquisa aturada quase mimética de um inquérito criminal, a suspeita alastra para domínios impensáveis. Quando um político se liberta dos seus escrúpulos, prescinde de uma espécie de imunidade moral.
Sarah Linden, a detective que lidera a investigação, a braços com um filho adolescente em deriva de rebeldia e com um noivo em modo de espera, persiste na vontade de deslindar este último caso antes de abandonar a cidade da chuva inclemente. A actriz Mireille Enos interpreta-a com a dose exacta de determinação, exasperação, frustração e persistência. Como se um inadiável imperativo ético a comandasse. A vida pode esperar; a morte reclama urgência na explicitação dos seus motivos.